Após arrastar uma série de prêmios em festivais internacionais de cinema, “Ainda estou aqui” traz o inédito Oscar para o Brasil. O filme, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, faturou a estatueta da categoria Melhor Filme Estrangeiro. Nas redes sociais, o clima era de vitória de final de Copa do Mundo por quem viu a obra e torceu por esse momento histórico para o cinema brasileiro. E uma homenagem para famílias vitimas da ditadura militar instalada após o golpe de 1964.
“Ainda estou aqui” é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva (autor também de “Feliz Ano Velho”). A obra retrata como a família dele, relativamente feliz e rica, vê a paz sendo soterrada pela truculência do regime. Policiais levam o deputado Rubens Paiva (Selton Mello), pai de Marcelo, sem explicações. O parlamentar foi assassinado e teve o cadáver ocultado. E resta a Eunice Paiva (Fernanda Montenegro), esposa do politico, ser o chão de uma família que perde tudo aos poucos.
O filme recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro (que venceu) e Melhor Atriz. No entanto, já havia vencido outras importantes premiações, como Globo de Ouro para Melhor Atriz em Filme de Drama; Melhor Roteiro, no Festival de Veneza; Melhor Atriz em Filme de Drama pelo Satellite Award; Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano. Ao todo, foram mais de 35 premiações pelo mundo.
A jornada de Eunice Paiva passa por ela também sendo presa na paranoia repressiva da ditadura militar junto com a filha adolesceste. Ambas são mantidas vários dias sob custódia da polícia do regime até serem liberadas. A esposa de Rubens Paiva passa a procurar pelo marido, enquanto tenta manter a força e cuidar da família. Ela decidiu estudar Direito, se tornou advogada. Se dedicou a defender os direitos humanos e buscar um objetivo de cada vez.

“Nós vamos sorrir. Sorriam!”, disse Fernanda Torres após o Oscar ser concedido, numa referência a uma das cenas do filme, que retrata uma cena real de Eunice Paiva e a família: uma entrevista que a família daria a uma revista. Os fotógrafos insistiam que ela e os filhos fizessem uma cara triste ou irritada para a foto, mas ela insistiu que eles iriam sorrir e continuar vivendo. “Ainda estamos aqui comemorando”, seguiu a atriz nas redes sociais.
Uma cena emblemática do drama real, foi o dia em que recebeu o atestado de óbito do marido. O filme reacendeu as discussões sobre anistia dos militares da ditadura brasileira de 64. Dos 5 suspeitos de envolvimento na morte de Rubens Paiva, 3 já morreram sem nunca terem sido punidos. Enquanto isso, as famílias de todos eles já receberam milhões de reais do Governo Federal em benefícios para militares.
“Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir… Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, declarou Walter Salles durante seu discurso e agradecimento. Ele também citou os nomes de Tom Bernard e de Michael Baker, executivos da Sony Pictures Classic, principal produtora internacional do filme.
“Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e Janja estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo. O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, do Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo. Parabéns! Viva o cinema brasileiro, viva Ainda Estou Aqui”, disse o presidente Lula, nas redes sociais.
O filme “Ainda estou aqui” continua nos cinemas, desde a estreia, em novembro de 2024. Há vários movimentos que tentam levar o filme a locais onde não há salas de cinema para que o povo possa ter acesso ao primeiro filme brasileiro premiado com um Oscar. Era para ser o segundo ou terceiro, mas a Academia não colaborou quando foi a vez de “Central do Brasil” e de “Cidade de Deus”. Nos streamings, a previsão é de que o filme chegue ao catálogo do Globoplay no dia 6 de abril.
(VICTOR FURTADO, da Redação do Fato Regional)
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