Microplásticos ameaçam a saúde óssea, apontam pesquisadores brasileiros

Partículas já foram encontradas em sangue, cérebro, placenta e até em ossos; estudo indica que podem acelerar envelhecimento celular e favorecer fraturas.
Novo estudo investigará ligação entre microplásticos e doenças ósseas; fraturas por osteoporose podem aumentar 32% até 2050 (Imagem: Léo Ramos Chaves/Pesquisa Fapesp).

A produção global de plásticos ultrapassa 400 milhões de toneladas por ano e seus resíduos já alcançaram praias, rios e até o ponto mais profundo dos oceanos, a 11 mil metros de profundidade.

Além de agravar as mudanças climáticas, gerando 1,8 bilhão de toneladas anuais de gases do efeito estufa, o plástico ameaça também a saúde humana.

Pesquisas revelam que partículas microscópicas do material, desprendidas de roupas, cortinas, móveis e outros objetos, podem ser inaladas, ingeridas ou absorvidas pela pele. Como resultado, microplásticos já foram identificados no sangue, no cérebro, na placenta, no leite materno — e agora também nos ossos.

Um estudo apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e publicado na revista Osteoporosis International revisou 62 artigos científicos e constatou que essas partículas afetam negativamente a saúde óssea.

Entre os achados, está a capacidade dos microplásticos de alterar funções das células-tronco da medula óssea, favorecendo a formação de osteoclastos — células que degradam o tecido em um processo chamado reabsorção óssea.

“O potencial de impacto dos microplásticos nos ossos não é desprezível. Estudos in vitro mostram que eles prejudicam a viabilidade celular, aceleram o envelhecimento das células, alteram a diferenciação e promovem inflamação”, afirma Rodrigo Bueno de Oliveira, coordenador do Laboratório para o Estudo Mineral e Ósseo em Nefrologia (Lemon) da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Segundo o pesquisador, experimentos com animais indicam que a aceleração da senescência dos osteoclastos pode comprometer a microestrutura óssea, causando enfraquecimento, deformidades e favorecendo fraturas. Em alguns casos, os efeitos adversos chegaram a interromper o crescimento esquelético.

Imagem microscópica: célula óssea do tipo MG-63, com microplásticos de poliestireno (em azul) dentro do citoplasma. O núcleo celular aparece em vermelho (Lemon-FCM-Unicamp).

Embora os impactos sobre as propriedades mecânicas dos ossos ainda não sejam totalmente compreendidos, Oliveira alerta que a circulação dessas partículas no sangue pode comprometer a saúde óssea.

“O mais impressionante é que estudos sugerem que os microplásticos conseguem atingir a medula óssea e causar perturbações em seu metabolismo”, diz.

Próximos passos

A equipe da Unicamp iniciou um novo projeto para investigar, em modelo animal, a relação entre a exposição a microplásticos e o agravamento de doenças osteometabólicas. O foco será analisar o efeito dessas partículas na resistência de ossos do fêmur em roedores.

O tema ganha relevância diante do cenário global. A International Osteoporosis Foundation (IOF) estima que a prevalência de fraturas por osteoporose aumentará 32% até 2050 devido ao envelhecimento populacional.

“Já sabemos que exercícios, boa alimentação e tratamentos farmacológicos ajudam a prevenir complicações ósseas. Mas ainda existe uma lacuna sobre a influência dos microplásticos. Nosso objetivo é gerar evidências de que eles podem ser um fator ambiental — e controlável — por trás do aumento projetado de fraturas”, conclui Oliveira.


O artigo completo pode ser lido em inglês: Effects of microplastics on the bones: a comprehensive review

(Da Redação do Fato Regional, com informações da Agência Fapesp)

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