sexta-feira, 22 de novembro de 2024

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Remake de clássico de 1933, ‘O Homem Invisível’ estreia nos cinemas

No longa, Elisabeth Moss interpreta Cecília, uma mulher que vive um relacionamento abusivo com um engenheiro

Dirigido e roteirizado por Leigh Whannell (“Upgrade: Atualização”), “O Homem Invisível”, que estreia hoje no Brasil, é uma releitura do livro escrito por H.G. Wells. Presa em uma violenta e controladora relação com um cientista brilhante, Cecilia Kass (Elisabeth Moss) escapa na calada da noite e desaparece, escondendo-se junto com sua irmã (Harriet Dyer), seu amigo de infância (Aldis Hodge) e a filha adolescente (Storm Reid) dele.

Mas quando seu ex abusivo (Oliver Jackson-Cohen) comete suicídio e lhe deixa uma generosa parte da fortuna, Cecilia começa a suspeitar que a morte foi forjada. À medida que uma série de coincidências arrepiantes se tornam muito letais, ameaçando a vida daqueles que ela ama, a sanidade de Cecilia começa a enganá-la – e ela desesperadamente tenta provar que está sendo caçada por alguém que ninguém pode ver.

Apostando em contar uma história sobre relacionamento abusivo, Whannell tem em mãos o ingrediente fundamental para que a sua adaptação não nasça datada. E Elisabeth Moss consegue demonstrar o terror e o trauma que uma pessoa na situação de Cecilia passa. A dificuldade para sair de casa e a insegurança para fazer atividades simples, como buscar a correspondência, dialogam diretamente com o medo que ela tem de voltar a viver com uma pessoa que fez tanto mal para ela. Mesmo antes de Adrian retornar invisível, ele já a está perseguindo, algo que a história consegue narrar muito bem e em uma ponte tão próxima com a realidade.

Tudo isso é construído para que quando Adrian comece a perseguir Cecilia, já tenha sido construída uma imagem de alguém (ela, no caso) que não está totalmente sã. Whannell consegue demonstrar com inteligência o processo de anulação da vítima, que apesar de ter todos os motivos para ser ouvida, é tratada como insana. As consequências que ela, e as pessoas que estão próximas a ela sofrem, é por ela ser ignorada e tratada como alguém que enlouqueceu, um terror real e que foi adicionado de maneira inteligente à trama.

Whannel investe muito bem em explicitar o elemento assustador no vazio, encontrando a maneira perfeita de brincar com as expectativas. A direção de “O Homem Invisível” acha seu brilho no silêncio e faz o público prender a respiração com quadros simples de uma cadeira, uma porta, ou qualquer elemento que faça o espectador imaginar o que poderia estar na filmagem do nada. O tom do suspense de Whannell já tem seu primeiro êxito na cena de abertura do longa, que mostra Cecilia escapando lentamente da casa de Adrian, na ponta dos pés. Ele ainda consegue se beneficiar de sua experiência em filmes sobrenaturais, brincando com o formato, mas sem nunca sugerir que a ameaça possa ser sobrenatural.

Ele opta pelo poder da sugestão — que cria “fantasmas” —, para que Cecilia seja vista em uma situação de vulnerabilidade. O resultado funciona, principalmente nas cenas que acontecem na casa de James (Aldis Hodge), com a ameaça alternando entre a sugestão e o perigo real, assim como os cenários, que por vezes são acolhedores, mas se tornam facilmente aterrorizantes, com uma simples mudança de ângulo.


Saber que as consequências da violência doméstica são muito mais ameaçadoras do que um monstro, é a prova que Whannell entendeu como fazer uma boa atualização de um clássico da literatura. Sem abrir espaço para outro ponto de vista que não seja o da protagonista (e da vítima), o diretor conseguiu criar um filme que funciona pela tensão para o público geral, mas que pode ter um significado mais intenso para quem já passou por relacionamentos abusivos — vítimas de violência doméstica mais agressiva podem até se sentir desconfortáveis em algumas cenas. Em tempos de #MeToo, “O Homem Invisível” é uma atualização cruel, embora real e necessária.

 

 

Fonte: Agência Estado