Em depoimento de oito horas, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse ter sofrido pressão do presidente da República, Jair Bolsonaro, para mudar o comando da Polícia Federal e que cabe ao chefe do Executivo responder por que queria a troca. Como prova, afirmou ter recebido uma mensagem de texto de Bolsonaro na qual estaria escrito: “Moro, você tem 27 superintendências (da PF), eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro.”
Em dez páginas de relato aos investigadores, o ex-ministro mencionou preocupação de Bolsonaro com inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que mira aliados e afirmou que ele desejava obter acesso a relatórios de inteligência sigilosos. “( ..) O presidente lhe relatou verbalmente no Palácio do Planalto que precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência”, diz trecho do depoimento.
Segundo Moro, em reunião de Bolsonaro com o conselho de ministros, Heleno alertou que não seria possível fornecer ao presidente “o tipo de relatório” de inteligência sobre o qual ele vinha manifestando interesse. De acordo com o ex-juiz da Operação Lava Jato, os ministros “se comprometeram a tentar demover o presidente”.
Questionado se Bolsonaro tinha interesse específico sobre alguma investigação em curso no STF, Moro respondeu que ele já havia perguntado sobre uma apuração que mirava deputados bolsonaristas
O caso, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes, diz respeito a ameaças, ofensas e fake news contra integrantes da Corte e suas famílias.
Na mensagem, Bolsonaro comentou que o avanço do inquérito seria “mais um motivo” para a troca na PF. Moro, por sua vez, respondeu que a corporação apenas cumpria ordens de Moraes.
Novas provas
Moro disse no depoimento à PF que identificou várias outras mensagens que podem ser relevantes para a investigação. Uma delas seria sobre o inquérito no Supremo e outra traria a ordem de Bolsonaro para a demissão de Maurício Valeixo do comando da corporação “a pedido ou ex-ofício”.
Haveria, ainda, um diálogo no qual o presidente demonstraria o desejo de trocar o superintendente da PF em Pernambuco.
O ex-juiz afirmou ter ouvido de Bolsonaro que ele iria interferir em “todos os ministérios” e que, se não pudesse substituir o superintendente da PF no Rio, mudaria o diretor-geral e o próprio ministro da Justiça.
‘Arbitrária’
Moro, por sua vez, considerou “arbitrária” o que considerou “interferência” de Bolsonaro na PF. Para o ex-ministro da Justiça, a ideia de trocar o comando do órgão foi comentada por Bolsonaro em agosto de 2019, e “voltou com força” em janeiro deste ano, quando Bolsonaro disse que gostaria de nomear o delegado Alexandre Ramagem para o lugar de Valeixo. O ex-juiz viu um “desvio de finalidade”, que seria de conhecimento de “várias pessoas”.
Fonte: Agência Estado