A ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro a um repórter que o questionou sobre depósitos de Fabrício Queiroz à sua mulher gerou a terceira maior onda de comentários negativos para ele nas redes sociais desde o início da pandemia, segundo a consultoria Bites.
O levantamento, que inclui dados atualizados até as 17h30 de ontem indica que o episódio só ficou atrás da repercussão negativa gerada no dia da prisão de Queiroz, em 18 de junho, e nos dias que se seguiram à participação do presidente a atos antidemocráticos em 31 de maio.
Nas redes, os apoiadores do presidente tentaram articular uma mobilização de apoio. Mas, até as 17h30 de ontem, publicações que utilizaram as hashtags escolhidas pela base de Bolsonaro para defendê-lo não haviam chegado nem a um décimo do volume alcançado pelas publicações críticas ao presidente, segundo a Bites.
“Realmente é um dia excepcional, em que o Bolsonaro está perdendo nas redes sociais. Ele geralmente consegue reagir mais rápido e com mais intensidade. Dessa vez, não conseguiu”, avalia André Eler, gerente de relações governamentais da Bites.
O analista pondera, no entanto, que o episódio não marca necessariamente uma guinada nas redes contra o presidente. “Quando Bolsonaro sofre derrotas nas redes sociais, ele costuma conseguir reorganizar sua base. Na verdade, é ainda provável que as pessoas mais leais a ele voltem a se aglutinar para defendê-lo. Apesar dessa derrota, é provável que volte a crescer, como cresce depois que polariza.”
Segundo a Bites, entre o último domingo, quando o presidente disse que tinha vontade de “encher de porrada” o jornalista que o questionou sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro, e as 17h30 de ontem, 912 mil publicações repetiram o questionamento feito pelo jornalista ou utilizaram as hashtags “#respondebolsonaro”, “#respondepresidente” e “#porradanaonoscala”.
As mensagens foram publicadas por 336 mil usuários – uma mesma conta pode fazer várias publicações sobre o tema.
De acordo com o pesquisador Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudo sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, o movimento iniciado nas redes sociais teve ainda a particularidade de romper a bolha das contas que são tradicionalmente críticas ao presidente e envolver personalidades. “A gente está falando das principais contas de internet, de rede social, do Brasil. Estamos falando de Anitta, de cantores, de gente do entretenimento. É gente de fora da política. Ao meu ver, (esse episódio) é muito grave do ponto de vista do alcance”, afirma Malini, que destaca que o episódio foi capaz de unir forças que tradicionalmente divergem.
Dados levantados pelo pesquisador na tarde de ontem indicam ainda que publicações que questionaram Bolsonaro sobre o tema foram feitas, em português, de 45 países diferentes.
Fonte: Agência Estado