Fernando dos Santos Araújo, de 39 anos, trabalhador rural sem-terra e sobrevivente da Chacina de Pau D’Arco, foi assassinado no mesmo município do massacre, na noite da última terça-feira (26). O caso veio à tona após uma nota conjunta ser publicada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). O documento pede que o Ministério Público Federal (MPF) acompanhe o caso. A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) também foi demandada.
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“Os depoimentos de Fernando e de outros sobreviventes foram, desde o início, fundamentais para elucidação do caso, antecipando o que os laudos de perícia técnica viriam a confirmar sobre a chacina. Tendo sobrevivido, foi, a um só tempo, vítima e testemunha ocular de um crime abominável, cuja repercussão nacional e internacional é mais uma ferida exposta de nosso país. Fernando morreu. O tiro que o vitimou, fez também outras vítimas. Atingiram a todos nós que lutamos pelo direito à terra no Pará, Amazônia e no país. Sua morte nos obriga a perguntar: Quem matou Fernando? Quem mandou matar Fernando?”, diz a nota da CPT e da SDDH.
A Chacina de Pau D’Arco ocorreu no dia 24 de maio de 2017. Dez trabalhadores rurais foram executados por policiais militares, durante uma operação que seria para cumprimento de 14 mandados de prisão contra suspeitos de matarem um segurança da fazenda Santa Lúcia, uma área de conflito de terra e disputa judicial, onde havia um acampamento das vítimas. Além de os policiais não cumprirem nenhum dos mandados, terminaram a operação com 10 vítimas e algumas delas com sinais de execução. Dois policiais civis, sendo um delegado, participaram da operação. Fernando foi um dos dois sobreviventes.
Após a chacina, todos os ocupantes da fazenda Santa Lúcia fugiram com medo. Algum tempo depois, quando o caso começou a ser investigado e as suspeitas contra os policiais aumentaram, um novo acampamento foi montado e chamado de Jane Júlia. Fernando morava nesse novo acampamento, onde habitam 150 famílias que vivem do que produzem na pequena área. Com a morte de Fernando, essas famílias revivem todo o terror do massacre de 2017, o segundo maior ataque contra camponeses desde o massacre de Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores sem-terras foram executados pela Polícia Militar.
Desde a nova ocupação da fazenda, as famílias viviam sob a tensão de constantes tentativas de reintegração de posse e despejos ilegais. Somente o poder judiciário pode determinar a desocupação de determinado local e há um procedimento legal para que esse processo ocorra. No local onde os camponeses foram mortos, uma capela foi erguida.
O que se sabe sobre a Chacina de Pau D’Arco e a situação atual