Aliados do presidente Jair Bolsonaro informaram que partiu dele a decisão de excluir a Anvisa das reuniões no Palácio do Planalto nesta semana que decidiriam sobre a adoção das recomendações da agência de estabelecer o “passaporte da vacina” no país e sobre a extensão do fechamento da fronteira área para mais quatro países africanos.
Segundo relatos, desde a manhã de segunda-feira o presidente já estava incomodado com a Anvisa, em especial com o seu diretor-presidente, Antonio Barra Torres, que passou de antigo aliado a desafeto. O presidente, segundo fontes do governo, tem criticado Barra Torres por considerar que o dirigente da Anvisa não mais dialoga com o governo antes de fazer suas recomendações, apostado em uma agenda oposta da que Bolsonaro defende e, inclusive, o critica dizendo que ele só chegou na Anvisa porque teve o apoio de Bolsonaro.
Na segunda-feira, por exemplo, o grau de irritação do presidente com Barra Torres estava elevado. As informações que foram chegando ao Planalto ao longo do dia eram de que a agência reforçaria suas recomendações na reunião e apresentaria algumas condições para que elas ocorressem.
A reunião foi marcada para as 17h30, mas uma hora antes de ocorrer sobreveio a decisão do Supremo Tribunal Federal de exigir do governo informações sobre o passaporte da vacina. Como nenhum dos dois principais ministros responsáveis pela decisão participariam da reunião, Marcelo Queiroga (Saúde) e Ciro Nogueira (Casa Civil), o gabinete presidencial minutos antes de ela começar e quando a maior parte dos secretários-executivos que participariam do encontro já estavam no Planalto.
Foi decidido então uma nova reunião nesta terça-feira com a presença de Bolsonaro para dar as orientações a Ciro e Queiroga. Também participaram das decisões o ministro da Advocacia Geral da União, Bruno Bianco, e o secretário de Assuntos Jurídicos, Pedro Cesar Sousa. Representantes da Anvisa não foram convocados.
O objetivo era tanto passar uma decisão do governo sobre as recomendações da Anvisa. Decidiu-se por uma portaria estabelecendo uma quarentena para não vacinados. No encontro alinharam a manifestação jurídica que será feita ao Supremo, daí a presença de Bianco e Sousa.
Antes da reunião e do pronunciamento, Queiroga disse que o encontro com o presidente seria para “só bater como se posicionar pra sociedade” e que considerava a polêmica em torno do passaporte e das fronteiras uma “fogueira de discussões estéreis”. Questionado sobre a ameaça da variante Ômicron, ele disse que “estamos indo bem e temos que ter tranquilidade. Semana passada era festa e agora fecha tudo?”. E concluiu: “A gente fica discutindo o varejo quando na verdade tem um cenário epidemiológico cada dia mais tranquilo. São os fatos, mas sempre se busca essas narrativas mais polêmicas”, concluiu.
Procurados, nem Barra Torres nem a Secretaria de Comunicação da Presidência da República quiseram se manifestar.
Fonte: CNN Brasil