segunda-feira, 13 de maio de 2024

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Agroecologia: São Félix do Xingu é exemplo positivo em projetos na produção de cacau e polpas de frutas com insumos verdes

Projetos do Floresta de Valor, acompanhados pelo Imaflora, com apoio do Governo Federal e da Petrobras, mostram que é possível ter lucro com técnicas novas, conservando a floresta em pé e diversificando a produção agropecuária na Amazônia
Técnicas agroecológicas garantem que a produção de cacau tenha outras formas de remuneração enquanto se estabiliza (Foto: Diego Formiga / Imaflora)

São Félix do Xingu, no sul do Pará, tem se tornado um exemplo de que técnicas agroecológicas podem garantir preservação da floresta, diversidade da produção e lucro. O programa Florestas de Valor já apresenta resultados positivos na produção de cacau e de polpas de frutas.

A economia agroecológica funciona por meio dos sistemas agroflorestais (SAFs), ou os chamados quintais agroflorestais. A iniciativa em São Félix do Xingu é do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal.

Para o Imaflora, a agroecologia é a forma mais eficiente de conservar a floresta em pé. E assim, assegurar uma gestão responsável dos recursos naturais. São Félix do Xingu foi escolhida por ser uma cidade amazônica com altos índices de desmatamento.

Os plantios de cacau em sistemas agroflorestais preveem diferentes espécies vegetais na mesma área e ao mesmo tempo. Em São Félix do Xingu, o cacau é plantado junto com frutíferas como a banana e também com essências florestais, como andiroba e mogno.

Retorno mais rápido enquanto a produção de cacau se estabiliza em São Félix do Xingu

“Trabalhamos com SAFs diversificados, visando a produção de culturas desde o primeiro ano”, explica a analista técnica do Imaflora, Karen Krull. A produção de cacau estabiliza entre 4 e 5 anos. Enquanto isso, produtores precisam de outras fontes de renda.

Além do plantio consorciado de espécies vegetais, as práticas agroecológicas se completam com o uso de adubação verde, biofertilizantes e caldas para controle de doenças, aliados a uma abordagem dialógica da Assistência Técnica.

“Os técnicos dialogam com os produtores. É uma troca. Ninguém sabe mais do que ninguém e todo conhecimento se constrói em conjunto e isso tem garantido uma aceitação muito boa por parte dos produtores”, conta Karem.

O mesmo vale para os quintais agroecológicos, que são espaços de produção destinados principalmente ao plantio de espécies frutíferas nos arredores das casas.

O começo da produção de cacau em São Félix do Xingu garantiu a possibilidade de criação de sistemas agroflorestais que vêm dando certo (Foto: Diego Formiga / Imaflora)

 

Transição agroecológica se apresenta promissora em São Félix do Xingu, relatam produtores

Com a maioria dos SAFs do Floresta de Valor ainda em processo de implantação e consolidação, nem todos os produtores compreendem bem o que significa a agroecologia. Mas aos poucos o conceito cai nas graças dos produtores, como o agricultor Paulo César Pereira Alves.

Com uma pequena chácara na Colônia Maguari, localizada a 30 quilômetros da sede de São Félix do Xingu, Paulo César acompanha com preocupação a vassoura de bruxa reduzir em cerca de 30% a produtividade dos seus 6 mil pés de cacau.

A alternativa proposta foi a implantação de um quintal agroecológico com pomar, extração de mel e produção silvipastoril. “Agora estou atrás de mais mudas de frutas, que é a minha maior dificuldade, e também de entender mais sobre as técnicas”, relata.

Essas dificuldades foram superadas pelo agricultor Nelci Pereira de Carvalho. Aos 70 anos e nascido em Patos de Minas, ele chegou em São Félix do Xingu em 1992. Chegou decidido a trabalhar no cultivo de arroz e feijão, como fazia desde muito jovem na sua cidade natal.

“Em 2000 eu comecei a ver que o meu vizinho estava se dando bem com o cacau e decidi arriscar”, conta. Seu Nelci atualmente tem 10 hectares de cacau, na Colônia Tancredo Neves. Os últimos 2 hectares começaram há 2 anos com técnicas de agroecologia.

O objetivo do agricultor é obter certificação de produto orgânico para essas novas lavouras e expandir no mercado. “A gente nunca é tão velho para aprender coisas novas e agora a gente quer andar pra frente e até entrar no mercado de carbono também”, diz Nelci.

Assim como Nelci, vários outros agricultores familiares estão não apenas aderindo às práticas, mas percebendo como as questões estão conectadas na natureza. Desde os microrganismos do solo até a diversidade de plantas, tudo influencia no resultado final da produção.

 

Os produtores de cacau que aderiram à Agroecologia em São Félix do Xingu dizem que é possível perceber retorno e as técnicas se mostram promissoras (Foto: Diego Formiga / Imaflora)

 

Associação de mulheres em São Félix do Xingu potencializa e diversifica a produção de polpas de frutas

Outra experiência em São Félix do Xingu são os quintais agroecológicos do programa Floresta de Valor. A técnica está sendo implantada em parceria com a Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), como territórios de autonomia e soberania alimentar.

Nos quintais ou nos SAFs, os métodos empregados são muito semelhantes e todos têm o objetivo de mostrar que uma boa produção não depende de defensivos químicos.

Os técnicos fazem uma primeira visita para conversar e entender as necessidades do sistema produtivo de cada agricultor. Só depois são elaborados os planos.

A etapa da assistência técnica também é complementada com visitas para manejo demonstrativo de algumas técnicas como a aplicação de biofertilizantes ou de calda e realização de podas.

“Muitos produtores que não tinham o costume de aplicar insumos verdes para a nutrição das plantas já encaram a alternativa agroecológica como uma forma de fortalecer a produção e aumentar a produtividade”, explica a analista do Imaflora.


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(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional, com informações da Imaflora)