terça-feira, 26 de novembro de 2024

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Alertas do Inpe indicam alta de 40% em desmate na Amazônia; governo contesta

Depois de passar quase duas semanas dizendo que os dados de desmatamento da Amazônia são mentirosos, o governo Bolsonaro reconheceu ontem que a taxa está em alta, mas afirmou que os números que vieram à tona foram uma interpretação equivocada. O presidente anunciou no sábado que haveria uma “surpresa” nos números e ontem disse que apresentaria o “dado real”. Mas o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, encerrou o dia dizendo que os “porcentuais imperativos cairão.”

O período em que a taxa anual do desmatamento é medida se encerrou ontem (o período vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte), e dados de alertas disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que a perda da vegetação neste ano pode ter sido bem maior que no ano anterior. O agregado de alertas feitos pelo Deter – o sistema de detecção em tempo real – aponta uma alta de 40% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os satélites observaram uma perda até esta quarta de 5.879 km2 da floresta, ante 4.197 km2 entre 2017 e 2018.

Os valores começaram a subir mais do que nos últimos anos a partir de maio. Julho, de acordo com o Deter, trouxe a maior perda em um mês desde 2015. Até esta quarta, o desmatamento observado foi de 1864,2. km2 – um valor 212% mais alto que julho de 2017. É mais do que a área da cidade de São Paulo, que tem cerca de 1.500 km2.

Os números acendem um sinal vermelho. O Deter fornece dados diariamente para o Ibama e para secretarias estaduais de Meio Ambiente para ajudá-las na fiscalização. Ele observa desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação, limpeza para mineração, degradação. Considerando os três primeiros pontos, que realmente indicam a perda da floresta, o chamado corte raso, chega-se aos números citados.

Mais rápido, porém com resolução menor, o Deter funciona como um indicador do que um outro sistema, o Prodes, vai mostrar até o fim do ano. Este sim é o monitoramento que fornece a taxa anual oficial da Amazônia. Nas últimas semanas, a gestão Bolsonaro, repercutindo análises de junho, começou a criticar o instituto e chegou a dizer que os dados são mentirosos, que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG” e a divulgação prejudica o País.

“Dado real”. Ontem o presidente falou duas vezes sobre o assunto No fim da manhã, disse que durante a tarde seria divulgado o “dado real” do desmatamento. “Foi uma variação muito abrupta. Alguma coisa aconteceu. E a desconfiança nossa é por aí, que existem dados lá que são alertas de desmatamento. Alerta não é desmatamento”, disse.

Algumas horas depois, afirmou que não seria divulgado nada e defendeu que, após o Inpe dizer que há “suspeita” de desmatamento, alguém do Ibama deveria “ir lá e comprovar”. O presidente ainda disse que os números não podem ser jogados. “Vão ser compilados agora. Vai ser discutido com todo mundo para passar exatos para todo mundo.”

Um pouco depois, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se manifestou. Ele havia acabado de sair de uma reunião com o ministro da Ciência, Marcos Pontes, técnicos do Inpe e um diretor do Ibama, onde ouviu explicações de como o Inpe funciona

Salles reconheceu que o desmatamento está em alta, mas afirmou que a alta de 88% observada em junho tinha sido interpretação de “jornalistas, técnicos e ditos especialistas” para produzir um “impacto midiático”. Também alegou que há, entre os dados, alertas duplicados ou desmates de mais de um ano que só foram vistos agora. E a alta de 88% foi “reconhecida por todos que não reflete a realidade”.

Defesa técnica


Ao jornal O Estado De S. Paulo, o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, afirmou que todos os dados apresentados por Salles foram contra-argumentados pelos técnicos. Ele reconheceu que às vezes um alerta pode não se confirmar depois como um real desmatamento, mas que, em geral os sinais demonstrados pelo Deter são confirmados depois pelo Prodes. Se um aponta alta, o outro provavelmente vai confirmar a mesma alta depois. “Não significa que os 40% de alta vistos pelos alertas vão depois ser uma alta de 40% no Prodes. Os sistemas são diferentes. É como se um olhasse com uma câmera mais aberta e o outro focasse mais. Mas há uma correlação em torno de 82%. Vai ter alta neste ano com o Prodes, não tenho a menor dúvida.”

 

 

Fonte: Agência Estado