Imagens de satélite mostram ano a ano a redução que a Floresta Amazônica vem sofrendo por causa do desmatamento. Agora elas começam a revelar também um outro impacto sobre a região – a redução de superfície de água. A Amazônia, aos poucos, está secando. Em 33 anos, foram perdidos, em média, 350 km2 de superfície de água por ano.
Os dados foram revelados a partir da análise de imagens do Landsat feitas da região entre 1985 e 2017, compiladas pelo projeto MapBiomas, iniciativa multi-institucional que investiga as transformações do território brasileiro. O trabalho, feito por pesquisadores das ONGS WWF-Brasil e Imazon, também conta com apoio da ferramenta Google Earth Engine.
As imagens mostram que nesse período a dinâmica natural dos rios da região mudou. “Existe uma variação natural, com anos mais cheios e anos mais secos, mas temos visto que não tem ocorrido a recuperação após uma temporada mais seca. São justamente as várzeas, as regiões mais sensíveis, que estão sendo mais afetadas, estão deixando de ter água”, explica Bernardo Caldas de Oliveira, especialista em conservação da WWF-Brasil. Essas regiões são importantes para a reprodução de peixes e outras espécies.
O levantamento apontou que desde a grande seca registrada na Amazônia em 2010 essa dinâmica natural é mais forte – como em planícies de inundação às margens dos grandes rios, áreas de várzea e lagoas e praias que se formam com o pulso de cheias e vazantes dos rios. “São locais que passaram a ficar mais expostos”, afirma Carlos Souza Jr, pesquisador do Imazon e primeiro autor do trabalho, publicado na revista Water. A pesquisa será divulgada nesta sexta-feira, 22, por ocasião do Dia Mundial da Água.
Fatores conectados
De acordo com os pesquisadores, uma série de fatores combinados pode estar contribuindo para essa situação, como as mudanças climáticas, a própria perda de vegetação, a construção de hidrelétricas e o avanço da agricultura nas cabeceiras de bacias, além de outras alterações na paisagem produzidas pelo homem, como a construção de açudes e pequenas barragens ou bebedouros para os animais.
“A gente já tinha bons indícios relacionando essas mudanças com impactos aos ecossistemas aquáticos, mas não tínhamos ideia da dimensão do problema”, afirma Souza Jr. O que o trabalho revela é que a perda de vegetação e outras alterações antrópicas estão conectadas com os ambientes aquáticos. “Dependendo de como vamos usar o solo, isso vai afetar os recursos hídricos.”
O mapeamento permite observar também o que é corpo d’água natural e o que são obras humanas. “Conseguimos identificar áreas de preservação permanente transformadas em bebedouros ou tanques para aquiculturas. Observamos mais de 50 mil minirrepresas, obras que precisam ser licenciadas, locais que precisam ser recuperados. A ferramenta ajuda a reconhecer o problema e mostra o desafio de recuperar essas áreas”, diz Souza Jr.
Fonte: Agência Estado