Beto Kenourukware, representante do Instituto Kenourukware Kayapó (IKKA), aparece em um vídeo defendendo a atuação de garimpeiros em terras indígenas do Pará. Desde domingo (20), um grupo de empresários do setor faz um protesto, no quilômetro 10 da rodovia BR-158. Fica próximo a Redenção, no sudeste paraense. Para ele, os garimpeiros são parceiros e fonte de sustento.
O indígena é liderança na aldeia Gorotire, que fica no município de Cumaru do Norte, em território da etnia Kayapó. O instituto alega abranger 19 aldeias, que somam cerca de 7 mil habitantes. Beto, no entanto, é uma voz dissonante entre outras lideranças, que são contra garimpos nas terras indígenas. A legitimidade dele como liderança é frequentemente questionada.
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Para Beto, as legislações existentes e políticas do Governo Federal, atualmente, não ajudam em nada os índios. Ele afirma que onde há atividade garimpeira em terras indígenas, é com autorização das lideranças das aldeias. O dinheiro que garimpeiros investem é que estaria garantindo o sustento desses povos.
“Quero dizer para o governo: até quando vai bater de frente com os indígenas? Porque nós temos parceria com os garimpeiros. Eles não está lá invadindo. Estão lá com nossa autorização para trabalhar e dar o dinheiro para mantermos nosso sustento, lá dentro da nossa aldeia”, diz o representante do IKKA.
Sem apresentar provas, afirma que ” As ONGs estão queimando as áreas até na minha aldeia e dizem que estão precisando de recurso? Para quê? Isso tá tudo errado! A gente depende do minério. Governo não está ajudando a gente não”.
Ainda no vídeo, com uma espécie de entrevista conduzida por Leda Fátima Frizon — que é uma das líderes do protesto dos garimpeiros —, Beto faz um apelo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido): “Senhor presidente, quero que o senhor veja, o mais rápido possível, da melhor forma, que dê certo pra vocês, governadores e pra nós indígenas e garimpeiros, que possam trabalhar legalmente junto com a população indígena na terra indígena”.
Outra liderança questiona posicionamento de parentes a favor de garimpos
Há três instituições indígenas que representam a etnia Kayapó e que são contrárias às opiniões de Beto. A Associação Floresta Protegida, o Instituto Kabu e o Instituto Raoni. Ao todo, essas organizações representam cerca de 60 aldeias e uma população estimada de 5,6 mil pessoas.
Somente a Associação Floresta Protegida representa 30 aldeias, com 2,8 mil pessoas. O-é Paiakan Kayapó é uma jovem liderança e que trabalha nessa organização. Ela destaca que os garimpos afetam a saúde, o bem-estar, a cultura e modo de vida dos povos indígenas. Pelas florestas, vida animal e rios. As águas são uma das áreas mais afetadas, devido à contaminação de mercúrio.
“A gente fica triste, mas a gente respeita. Eles estão lutando dentro da visão de futuro deles. Mas nós acreditamos na preservação do meio ambiente para as próximas gerações. O rio fornece alimento até para quem não é indígena. É para todo o povo. Preservamos para que permaneça e fortaleça nossa cultura”, diz O-é.
“Por que nós, indígenas Kayapó ,que preservamos a natureza, respeitamos o outro grupo que é a favor da legalização de garimpo? Entendemos que esse governo [Bolsonaro] vem os dividindo e colocando uns contra outros. Por isso, procuramos respeitar. Afinal somos parentes”, concluiu a jovem líder Kayapó.
(Victor Furtado, da Redação Fato Regional)