O Brasil abriu ontem um escritório comercial em Jerusalém. Durante a cerimônia, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, também confirmou a intenção de seu pai de transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para a cidade, que os israelenses consideram sua capital.
A transferência da embaixada para Jerusalém é uma promessa de campanha de Bolsonaro e um aceno aos evangélicos. Após assumir, no entanto, o presidente recuou diante da reação dos países árabes. Em março, em visita a Israel, Bolsonaro anunciou apenas a abertura na cidade de um escritório da Agência Brasileira de Promoção de Comércio e Investimento (Apex). Segundo ele, “seria o primeiro passo para transferir a embaixada”.
Em maio de 2018, os Estados Unidos transferiram sua embaixada para Jerusalém por decisão de Donald Trump. O governo israelense tinha esperança de que a manobra levasse outros a fazer o mesmo, mas dos 86 países que mantêm missões diplomáticas em Israel apenas Guatemala realmente transferiu a embaixada para Jerusalém O então presidente do Paraguai, Horacio Cartes, chegou a anunciar a mudança, mas a decisão foi revertida por Mario Abdo Benítez, que assumiu em agosto de 2018.
Na cerimônia de ontem, Eduardo Bolsonaro renovou a promessa e disse que seu pai ainda deseja mudar a embaixada. “Ele me disse que é certo, é um compromisso, vai transferir a embaixada para Jerusalém” afirmou. Netanyahu comemorou. “Apreciamos o comprometimento do presidente Bolsonaro. Primeiro, em abrir este escritório, que é algo que decidimos na visita dele. E seu compromisso de abrir a embaixada em Jerusalém, o que atende os interesses do Brasil e de Israel.”
Durante o encontro, no Hotel King David, segundo o jornal The Jerusalem Post, Eduardo disse ainda que espera que o Brasil classifique o movimento xiita libanês Hezbollah como organização terrorista. “Vamos combater o terrorismo juntos. Se você quer evitar um ataque terrorista, você tem que mostrar força. Quem comanda seu país é sua autoridade, não grupos terroristas. É por isso que, cedo ou tarde, iremos reconhecer o Hezbollah como um grupo terrorista.”
O Hezbollah é um grupo xiita, apoiado pelo Irã, formado para combater a ocupação israelense do Líbano, nos anos 80. Após a guerra civil, o grupo passou a cumprir múltiplas tarefas. Além de ser um partido político, que faz parte da coalizão que governa o país, ele também sustenta escolas e hospitais em áreas pobres, de onde tira grande parte de sua popularidade.
Ao mesmo tempo, o Hezbollah tem um braço armado que atua na guerra civil da Síria e é acusado de planejar e executar vários ataques terroristas. Entre os atentados mais marcantes estão as duas explosões que mataram mais de 150 pessoas em Tiro, no sul do Líbano, em 1982 e 1983. Outra ação foi em 1994, contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, o pior atentado terrorista na história da Argentina – 85 pessoas morreram.
O Hezbollah já é considerado uma organização terrorista por vários países, entre eles EUA, Israel, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Desde julho, a Argentina e o Paraguai também classificam o grupo como terrorista. Outros, como a Alemanha, fazem uma distinção entre o braço armado, rotulado de terrorista, e o partido político.
A intenção de classificar o Hezbollah como organização terrorista não é nova e Bolsonaro já repetiu isso outras vezes. As relações históricas e políticas com o Líbano, porém, seriam um empecilho.
Quase 10 milhões de libaneses e descendentes vivem no Brasil. Além disso, as Forças Armadas estão desde 2011 no comando da Unifil, a missão de paz da ONU no Líbano. A decisão de rotular o Hezbollah como grupo terrorista poderia colocar em risco os militares brasileiros servindo em território libanês.
Fonte: Estadão Conteúdo