quinta-feira, 28 de março de 2024

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Covid-19 já matou 34 quilombolas no Pará

Representantes dos grupos dizem que situação é caótica pela falta de políticas públicas

Trinta e quatro quilombolas já morreram de covid-19 no Pará. “Eram 33 óbitos. Mas, anteontem (segunda-feira), perdemos mais um, na região do Baixo Amazonas. Agora, são 34”, disse, nesta quarta-feira (1º), Raimundo Magno Cardoso, integrante da Malungu, a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará. “A situação já era caótica para os quilombolas em decorrência da falta de políticas públicas. E, com a chegada do coronavírus,  essas comunidades sofreram um impacto muito mais forte”, afirmou.

Ele citou a dimensão geográfica do Pará, “onde as comunidades, infelizmente, enfrentam dificuldade de acessibilidade, por falta de investimento nas políticas de saneamento e infraestrutura. Por outro lado, os nossos municípios, infelizmente, dispõem de infraestrutura muito deficitária, para o atendimento das pessoas que estão na cidade. Quando você coloca nesse bojo a realidade da área rural, essa situação é ainda pior. Por conta disso, esses números estão crescendo exponencialmente”.

Raimundo Magno acrescentou: “O coronavírus, para os quilombolas, infelizmente não está controlado. Recorrentemente, as comunidades estão tendo casos de adoecimento e a gente, infelizmente, não tem conseguido fazer o teste da maneira como deferia ser. O número de testes tem sido insuficiente, o que significa dizer que estamos bem distantes ainda da possibilidade desse efetivo controle. Se nós conseguirmos testar os quilombolas, o número vai ser gigantescamente maior do que aquilo que a nossa própria estatística consegue levantar. Só a comunidade Mupi, em Cametá, tem 244 casos confirmados”.

A Malungu coloca em relatório os casos encaminhados pelas lideranças. “Com base nas informações relatadas pelas nossas comunidades, são mais de 1.500 casos. Em pelo menos 80% das comunidades quilombolas as pessoas já adoeceram com sintomas análogos à covid. Teríamos, provavelmente, mais de 100 mil pessoas”, disse. “Há relatos de comunidades inteiras que tiveram sintomas mais leves, mas cujas pessoas ficaram acamadas por até 14 dias. As pessoas estão chamando isso de ‘virose braba’. A gente não pode dizer que teve ou que não teve (covid) porque não temos os testes. Mas os sintomas são os mesmos indicados pelas autoridades de saúde”, acrescentou.

Regiões Norte e Nordeste representam 80% das mortes por covid  

As regiões Norte e Nordeste representam 80% das mortes por covid-19 entre a população quilombola. As informações são da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas. A Conaq diz que,  devido à falência estrutural de sucessivos governos e dinâmicas de racismo institucional, os quilombos não contam com um sistema de saúde estruturado. Ao contrário. “Os relatos da maior parte dos quilombos é de frágil assistência e da necessidade de peregrinação até centros de saúde melhor estruturados”, diz a entidade. “As condições de acesso à água em muitos territórios é motivo de preocupação, pois também dificulta as condições de higiene necessárias para evitar a propagação do vírus. Essa situação tende a ser agravar exponencialmente com as consequências sociais e econômicas da crise da  covid- 19 na vida das famílias quilombolas”, acrescentou.

Desde 11 de abril quando foi registrado o primeiro óbito entre quilombolas, em 72 dias morreu, em média, mais de um quilombola por dia. Eis os números de óbitos: 33 no Pará; 15 no Amapá; 9 no Rio de Janeiro; 9 em Pernambuco; 7 no Maranhão; 3  na Bahia; 3 no Espírito Santo; 2 no Goiás; 1 no Amazonas; 1 no Ceará, 1  no Mato Grosso; e 1 na Paraíba.

Quilombos de 17 Estados já registram casos de contaminação:  Amapá, Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, Rondônia.

Durante o monitoramento desenvolvido pela Conaq junto aos territórios, desde o início do isolamento social no Brasil foi diagnosticado nos estados em que a Conaq o seguinte cenário: 824 casos confirmados, 192 casos monitorados, 86 óbitos e 2 óbitos sem confirmação de diagnóstico (Bahia e Minas Gerais). Nesta semana, a Paraíba entrou para a lista de Estados com óbitos. A desigualdade do enfrentamento ao coronavírus já se mostra evidente nos quilombos, e será devastador se a doença mantiver este ritmo de alastramento e letalidade. A Conaq tem chamado atenção para fatores estruturais alarmantes sobre as consequências da proliferação do coronavírus nos territórios quilombolas. A Redação Integrada solicitou um posicionamento da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), de quem aguarda retorno.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) diz que os registros oficiais apontam 33 óbitos de quilombolas por covid-19 no estado. A secretaria diz que, por meio da Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, tem desenvolvido ações para a detecção, notificação, acompanhamento, investigação e monitoramento de prováveis casos sa doença, que são monitorados pelos Centros Regionais de Saúde (CRSs) e pelas Secretarias Municipais de Saúde.

Além disso, a Sespa garante que vem trabalhando nas ações itinerantes, respeitando as especificidades de cada povo, oferecendo consultas, exames e medicamentos por meio da Policlínica Itinerante, que conta com unidades móveis e barcos para levar atendimento a quem mais precisa.


A nota acrescenta que foi criado um grupo de trabalho reunindo representantes da Sespa, da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e os líderes quilombolas.

 

 

Fonte: Liberal