Apesar de o setor produtivo afirmar que não há desabastecimento de carne no estado, vendedores dizem que os pedidos não têm sido atendidos na sua totalidade. Enquanto isso, o preço do produto não para de subir nos locais de venda. A alta foi de mais de 10% nas três primeiras semanas de novembro, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA). O reajuste é maior do que o acumulado de janeiro a outubro, que foi de 7,02%.
De acordo com o estudo da entidade, nos supermercados, o quilo de chã, cabeça de lombo e paulista foi encontrado, nas três primeiras semanas de novembro, com os preços médios oscilando entre R$ 21,76 a R$ 32,49, enquanto nos mercados, feiras e açougues, variava de R$ 19,00 a R$ 23,00. Em outubro, o preço médio, em todos esses estabelecimentos, foi de 20,89, reajuste de 0,63% em comparação ao mês anterior.
“Temos sentido na própria pele o que está sendo esse desabastecimento. Em menos de trinta dias, essa carne subiu mais de quatro reais o quilo. Isso está afetando todo mundo. As pessoas passam a consumir menos. Não param completamente de consumir, mas aquele ‘churrasquinho’ de final de semana fica mais difícil”, declarou o vendedor Adjair dos Santos, que trabalha no mercado da Pedreira.
Ele conta que pediu três quartos de carne traseira para o fornecedor, mas só recebeu um quarto. “Porque ele precisava dividir com todo mundo. Não está desabastecido, se você tiver dinheiro, você compra. O problema maior é o preço”, enfatiza.
Alta
O subgerente de um açougue, Bruno Cristiano Menezes, confirma a dificuldade de atendimento de todos os pedidos feitos. “Está tendo uma falta de carne geral. É muita gente pedindo e nosso fornecedor não consegue atender tudo e, por isso, diminuiu o nosso pedido”, declarou, enfatizando ainda a disparada de preço, por causa desses problemas. “Já tivemos quatro aumentos, somente nesse mês. Provavelmente, vai ter mais aumento pela frente”.
Segundo Bruno, a alta no valor da carne mexeu com as vendas. “Estamos sentindo queda no movimento, e as pessoas também estão procurando mais frango, que aumentou, mas só uns dois reais, não foi tanto quanto a carne”.
Mesma situação é confirmada por Thyson Pinto, gerente de outro açougue. Ele conta que o estabelecimento tem fazenda própria, mas a produção não é suficiente, por isso, uma vez por semana, precisa comprar o produto de um frigorífico de Marabá. “O aumento (no preço) está sendo diariamente e não é pouco, de 5% a 10%. É fator geral. O frango aumentou ontem também”.
Para se ter ideia da diferença, ele conta que, semana passada, o quilo de chã custava R$ 23 e, agora, está R$ 28,5.
Consumidores
O aumento no preço de um dos principais produtos da mesa dos paraenses impactou fortemente no bolso dos consumidores que, em alguns casos, estão sendo obrigados a mudar a alimentação da família. “Em casa a gente come mais carne, mas voltou para o frango, que está mais em conta. Em alguns lugares, ainda dá para encontrar o frango congelado a R$ 20, o quilo do filé de frango por R$ 15 ou R$ 18. A gente também incrementa com feijão, faz uma fritada de calabresa com salsicha, ou compra carne de segunda”, diz a comerciante Ivenice da Silva Campos, de 48 anos.
Ela afirma que se espantou com a diferença de preço verificada na carne, com uma semana de diferença. “Eu comprava o chã a R$ 23 e, essa semana, quando vi, já estava R$ 29”.
O mesmo sentimento teve o gráfico Leonardo Teixeira, de 55 anos. “Onde vamos parar com esses preços? Eu cheguei a comprar o chã a R$ 20 e olha quanto está? Aumentou R$ 10”, reclama. Ele conta que costuma consumir carne de três a quatro vezes por semana. “Mas vou substituir por frango, peixe ou outros produtos que estejam com o preço mais acessível, para conseguir sobreviver”.
A dona de casa Fábia Ramos da Cruz, de 35 anos, está tomando a mesma atitude. “Eu consumia quase todo dia carne. Agora, estou há uns três dias sem comer”. Segundo ela, a carne era encontrada por R$ 18, no local em que costuma comprar, mas agora está R$ 24. Já o picadinho subiu de R$ 16 para R$ 20. “Eu estou comendo mais feijão e comprando mais peixe”, afirma.
Empresários
Presidente da União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (Uniec) Francisco Victer afirma que o abastecimento do produto está normal. “Você pode visitar qualquer açougue, casa de carne e verificar isso”, declarou. Ainda segundo ele, não há acréscimo no preço por causa da falta do produto. “O que há, todos os anos, é um movimento do mercado, porque nós estamos no final da entressafra, o período mais grave”.
Francisco explica que, agora, por causa das chuvas, a produção do capim irá aumentar e começa o ciclo pecuário de engorda o boi. “Se não há desabastecimento no período de entressafra, imagina agora. A perspectiva, daqui em diante, é de melhoria. Regula a oferta, aumenta a oferta e essa variação sazonal de preço vai ser regulada”.
Recentemente, uma grande rede de supermercados afixou em suas lojas um comunicado ao clientes, informando que passava por “um momento delicado em relação ao abastecimento de carne bovina”, que a empresa já havia utilizado todo o gado em condições de abate de suas fazendas, que os preços do produto estavam altos e sugerindo aos consumidores substituírem a carne por outro tipo de alimento. O aviso, que circulou em redes sociais e aplicativos de mensagens, reforçou em muitos consumidores a ideia de que o produto estava em falta.
Porém, o diretor do grupo Líder, Oscar Rodrigues, garante que não há risco de desabastecimento. Ele acredita que o comunicado foi interpretado de maneira equivocada. “O motivo do nosso esclarecimento foi uma questão de respeito e transparência com os nossos consumidores. Há um aumento substancial no preço da carne. A média de aumento de preços de abril para agora, gira em torno de 50%, o custo do fornecedor. Não está aparecendo mais tanto, porque no nosso caso, os nossos lucros, as nossas margens, diminuíram muito. O que acontece no grupo Líder é que a grande maioria dos nossos clientes, dado a confiança que tem no Líder, leva os produtos muitas vezes sem olhar o preço, e vai se surpreender quando chega em casa. Por isso, o Líder resolveu avisá-los que tem aumentado sim, muito, o preço da carne bovina in natura”, explica.
Oscar Rodrigues ressalta que o grupo Líder também tem criação de gado, mas não é suficiente para o abastecimento da sua rede de supermercados e que já foi abatido todo o gado que teria condições e estaria em tempo de abate. Para se ter uma ideia, ele conta que o quilo de carne dianteira, em abril de 2019, custava R$ 8, hoje custa R$ 13,30, do fornecedor. Já o quilo de alcatra, em 9 de abril, custava R$ 18, e até a última terça-feira (26) já estava custando R$ 30, enquanto o quilo de filé mignon subiu de R$ 31, em abril, para R$ 45.
“Isto é apenas alguns exemplos. Isso é fato, isto é verdadeiro e nossos clientes precisam saber disso. As lojas do grupo líder estão totalmente abastecidas, não vai faltar, mas tem que estar preparado e saber que esta é a verdade. Eu quis avisar a população. Da nossa parte, nós baixamos totalmente nossas margens para esse impacto ser muito menor”.
Fonte: O Liberal