Em março de 2020, com o início da pandemia de covid-19 e a adoção das primeiras medidas de restrição à circulação, muitos procedimentos médicos considerados eletivos foram interrompidos para evitar que o sistema de saúde entrasse em colapso. O aborto legal, embora não seja eletivo e tenha uma sensibilidade de tempo, foi um dos serviços afetados neste primeiro momento e os centros que o realizavam tiveram que encontrar novas formas para continuar oferecendo apoio às mulheres.
Pensando na adaptação à nova realidade, em abril do ano passado, a ginecologista e obstetra Helena Paro, do Hospital de Clínicas de Uberlândia (MG), começou a conversar com advogadas e pesquisadoras da organização não-governamental Anis, Instituto de Bioética para tentar montar um protocolo de atendimento por telemedicina.
O procedimento já existe em outros países, mas ainda não havia nada parecido no Brasil. Por aqui, está previsto em lei que mulheres, crianças e adolescentes grávidas em decorrência de estupro, as que correm risco de vida por conta da gestação ou estão grávidas de um feto anencéfalo podem optar por interromper a gestação.
No protocolo implantado pelo Hospital das Clínicas de Uberlândia, a primeira consulta com a mulher que interromperá a gravidez é presencial. Ela é entrevistada e acolhida por uma equipe de médicos e psicólogos, preenche formulários contando sua história de violência sexual (a maioria das mulheres que procura esse tipo de atendimento é vítima de estupro) e assina um termo de consentimento para passar pelo aborto.
Na maioria dos casos, a paciente faz um ultrassom, mas o procedimento não é obrigatório. Em seguida, a mulher recebe toda a orientação verbal e em cards (a quantidade de sangramento esperada, sinais de alerta para entrar em contato com a equipe ou quando procurar o hospital).
A medicação para aborto chega pelo correio. A paciente pode passar por todo o procedimento em casa, acompanhada de pessoas que confia, no momento que escolher, sem o julgamento de profissionais de saúde que nem sempre estão preparados para lidar com a situação.
Para qualquer dúvida, a equipe de Helena está a postos para atender a paciente por telemedicina. Cerca de 24h depois do procedimento, ela tem uma consulta por videochamada para que os profissionais de saúde avaliem o seu estado. A recomendação final é que, depois de quatro semanas, a paciente faça um exame de urina para confirmar a efetividade do procedimento.
O próximo passo será expandir o serviço de teleaborto para 10 outros centros de atendimento no país. O protocolo de atendimento deve ser encaixado em pesquisa científica em breve, não para testar se é seguro ou eficaz, já que essa evidência é consolidada na literatura, mas para verificar se há redução de custo para o hospital.
Com informações do Metrópoles