A pecuária de corte com regime extensivo – em grandes áreas de terra – e sem fiscalização adequada é a principal razão para o Pará ser líder em perda de vegetação entre os Estados brasileiros, avalia o professor do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA) André Cutrim Carvalho.
A pesquisa de Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra, divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o Pará perdeu 118.302 km2 em vegetação florestal e campestre (que reúne caatinga, cerrado, pantanal e pampa) entre 2000 e 2018. O território equivale quase ao tamanho da Coreia do Norte (com cerca de 120 mil km2). A parcela da superfície do Pará ocupada pela floresta caiu, nesse período, de 80,49% para 71,19%.
Ao mesmo tempo, a área ocupada com pastagens com manejo no Estado mais que dobrou, segundo o IBGE, passando de 74.116 km2 em 2000 para 157.516 km2 em 2018. Com isso, avançou também a fatia do território ocupada por essas pastagens: de 5,94% para 12,62%.
“A pecuária de corte é a principal causa do desmatamento. A necessidade de uso de grandes extensões de terra para colocar o gado, na pecuária extensiva, provoca a derrubada da floresta. A Amazônia paraense tem sido, ano após ano, a principal responsável pelo desmatamento da região”, diz o professor do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (PA), André Cutrim Carvalho.
O economista alerta que faltam investimentos na fiscalização das áreas de floresta do Pará, um Estado de dimensões continentais, para evitar ações ilegais praticadas por parcela dos pecuaristas.
“A logística para fazer o transporte do gado não é um problema para grande parte dos pecuaristas. Muitos usam mecanismos para burlar a fiscalização, avançar sobre áreas sem autorização. E só se combate isso com investimentos. Falta fiscalização do governo e dos órgãos ambientais. São necessários recursos, estrutura físicas e helicópteros, por exemplo, para conter as ações ilegais. Não são todos os pecuaristas, mas há muita ação ilegal”, destaca ele.
Carvalho destaca “os danos irreparáveis” provocados pela redução da floresta para o meio ambiente. O modelo adotado de pecuária extensiva amplia esse custo ambiental da pecuária na região.
“O Pará é uma região pobre e a pecuária de regime extensivo é mais barata. Mas o regime intensivo ou semi-intensivo tem impacto menor para o meio ambiente, já que o pasto pode ser menor. Só exige investimentos maiores. Sabemos que no Mato Grosso houve subsídio de algumas fazendas e isso poderia ser estudado aqui também”, reforça.
(Fonte: Valor Econômico, com edição da Redação Fato Regional)