sexta-feira, 22 de novembro de 2024

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Irmãs brasileiras são diagnosticadas com ‘síndrome de Benjamin Button’; conheça

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

As gêmeas Elis e Eloá Lima Carneiro, de 1 ano e 7 meses, são meninas agitadas e gostam de tirar fotos, ver desenhos na televisão e já conseguem sentar sozinhas. Cada ação das irmãs é motivo de alegria para a mãe Erismar Lima Carneiro, de 39 anos, já que elas foram diagnosticadas com a rara síndrome progéria de Hutchinson-Gilford, que causa envelhecimento precoce e afeta o desenvolvimento. A síndrome também é conhecida a doença de Benjamin Button, nome que ficou popular após o filme ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, lançado em 2008.

As gêmeas são os primeiros casos da síndrome atendidos pela rede estadual de saúde de Roraima e, de acordo com o Instituto Progeria Research Foundation (PRF), nos Estados Unidos, podem ser o primeiro caso da síndrome em gêmeos no Mundo. Atualmente há 400 pessoas que vivem com a condição e que são estudadas pelo Instituto americano em todo o mundo. No Brasil, além das meninas, eles acompanham outros sete casos. O Ministério da Saúde foi questionado sobre os dados da síndrome no Brasil, mas não enviou resposta e não há dados públicos disponíveis.

As meninas moram com a mãe e dois irmãos: o estudante de marketing Guilherme Lago, 20 anos, e a adolescente Maria Lima, de 14 anos, em um apartamento nos fundos do quintal da avó no bairro Asa Branca, zona Oeste de Boa Vista. Juntos, eles se desdobram para cuidar delas e celebram cada passo no desenvolvimento. Ela cita que “Elas são muito ativas, até demais. Ainda não andam por conta da estatura delas, mas já sentam, comem com a própria mão. Fazem a bagunça delas”, diz a mãe. “Elas são tudo na nossa vida”, complementa o irmão que é braço direto da mãe no cuidado com as meninas.

A família das gêmeas recebeu o laudo com diagnóstico de progéria no dia 28 de dezembro de 2022, no Centro de Referência de Saúde da Mulher, uma unidade pública. No entanto, até chegar no diagnóstico, as meninas passaram por uma série de exames para descartar outras síndromes ou problemas de saúde. Além disso, o caso delas chegou a ser tratado como subnutrição, o que foi descartado mais à frente. O baixo peso é considerada uma das características da síndrome.

Desde a primeira suspeita de que poderia ser progéria, o irmão buscou contato com famílias de outras crianças que vivem com a condição no Brasil. E, pela internet contactou o Progeria Research Foundation, que é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de tratamentos da síndrome nos Estados Unidos. Ele conta que já teve uma resposta do Instituto e atualmente está em trâmites burocráticos para enviar o material genético das meninas para que a fundação possa estudar.

A fundação disse que aguarda o recebimento do material genético para que, assim, possam confirmar que de fato são o primeiro caso de progéria atualmente identificado em Roraima e o único de gêmeos no Mundo registrados por eles. Enquanto isso não acontece, o Progeria Research Foundation estuda o caso das meninas, eles ajudam a família a acessar testes genéticos por meio do Programa de Banco de Células e Tecidos e Programa de Testes de Diagnóstico. O Instituto americano diz que o objetivo é ajudá-las a obter “tratamentos adequados que comprovadamente proporciona a essas crianças uma vida mais longa e saudável”.

“A gente conversou, eles perguntaram se queríamos fazer parte do grupo de estudo deles, se estávamos dispostos a mandar coisas como o material genético delas para estudarem. Nós aceitamos, e tivemos algumas reuniões online. Graças a Deus, eles são muito acessíveis” disse o irmão Guilherme, que sonha com um possível tratamento para as irmãs.

No entanto, a família cita que mesmo com força de vontade para proporcionar o melhor para as gêmeas, a família sofre com problemas financeiros. A mãe e os filhos vivem com o salário do jovem Guilherme, que começou há pouco tempo um trabalho com carteira assinada. A mãe delas conserta roupas para ajudar na renda. Antes, ela tinha um espécie de mercearia numa região de garimpo ilegal, mas deixou a atividade para cuidar das filhas.

A mãe conta que engravidou no garimpo, onde conheceu o pai das meninas, e por lá, ficou até os 5 meses de gestação. Elis e Eloá nasceram prematura, quando a mãe estava com 7 meses de gravidez. Até cerca de quatro meses de vida, elas não tinham características que acusassem qualquer condição atípica: “Não era visível. Tive uma gestação de 7 meses. Então, pequenos detalhes como o narizinho, a orelha, eu achava que era por conta da prematuridade. Só com 4 meses que os médicos notaram que tinha alguma síndrome. Elas não estavam ganhando peso, começou a cair os cabelos”, lembra a mãe.

Erismar conta que seus outros seis filhos não moram com ela. Eles são maiores e já não participam da rotina da família. Logo que elas nasceram, a mãe chegou a voltar para o garimpo e deixou o Guilherme cuidando delas. Mas, ela decidiu voltar para Boa Vista quando as meninas começaram a ter problemas de saúde: “A suspeita da síndrome surgiu quando elas tinham quatro para cinco meses. Quando a doutora as viu, achou que elas tivessem alguma deficiência. Fizeram vários exames e não deu nenhuma síndrome mais conhecida, mais frequente. A doutora falou que poderia ser progéria, mas não tinha o diagnóstico”, diz a mãe.

A mãe relata que quando as meninas completaram nove meses vida, ficaram mais visíveis as características comuns da progéria, momento em que a neuropediatra Charlote Briglia passou a estudar efetivamente esta hipótese. A especialista atende no Centro de Referência de Saúde da Mulher no seguimento de bebês de risco, além disso, é professora do curso de medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ela lembra que chegar ao diagnóstico foi difícil, pois a síndrome de progéria é extremamente rara: “Participei brevemente de um acompanhamento de um caso de progéria anos atrás quando eu estava fazendo minha formação em São Paulo. Quando elas eram mais novinhas, elas chegaram para mim com a suspeita de alguma questão genética e logo eu fiz a relação”.

“É muito difícil falar sobre esta condição em um sentido de comparação pois é uma síndrome muito rara, logo não acompanho nenhum outro caso além do delas”, conta a médica. Ela destaca que o que garantiu a certeza do diagnóstico foram as características físicas muito similares com a de pessoas com progéria. A análise das imagens foram fundamentais para chegar à conclusão, afirma a neuropediatra: “O aspecto que chamamos de fenotípico, as feições físicas da criança são muito características. Uma ausência de cabelo, uma pele muito sensível, fininha, o bebê menor, conseguimos ver os vasos sanguíneos na cabeça, dificuldade no crescimento de pelinhos no corpo, cabelo, sobrancelha, um rostinho com o nariz afinado, uma boca menor e essa questão da pele é muito característica.”

Após ter o diagnóstico fechado, a médica tem orientado a família das gêmeas a buscar atendimento para prevenir doenças comuns a pessoas mais velhas, tendo em vista que a síndrome acelera o processo de envelhecimento em cerca de sete vezes em relação à taxa normal.

Além do envelhecimento prematuro, a progéria possui outros sintomas como nanismo, falta de gordura corporal e muscular, perda de cabelo, veias visíveis, voz aguda e rigidez nas articulações: “Os sistemas do organismo vão sofrer as consequências desse envelhecimento. A pele é bem afetada por esse desgaste, tudo fica mais frágil. A pele reage mais ao sol, à luminosidade. O sistema cardiovascular vai sofrer antes do tempo de situação previstas para acontecer só no futuro”, explica, pontuando que “Problemas cardíacos, problemas vasculares e há uma dificuldade também de crescimento. Os ossinhos são mais frágeis, temos uma dificuldade de nutrição muito acentuada. Elas necessitam de uma série de acompanhamentos para poder já ir trabalhando essas diversas áreas que são afetadas”, explica a especialista.

Agora com o laudo médico, a família enfrenta outra problema: conseguir manter a frequência das consultas com os diversos especialistas da saúde, com fisioterapeutas e psicólogos. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) ofereça os serviços gratuitamente, os consultórios ficam distantes da casa da família e eles não têm dinheiro para manter essa rotina.

Além disso, as irmãs não conseguem usar o transporte público por conta do calor e a família estima que, ao todo, precisa gastar R$ 200 por mês em transporte para levá-las às consultas: “Ela (médica) queria que a gente fizesse no mínimo quatro consultas por semana com um fisioterapeuta, mas eu falei que não tinha condição pois no mínimo seria R$ 200 mensais e isso pesa no orçamento”, conta a mãe.

Com essas dificuldades, amigos da família decidiram publicar um vídeo nas redes sociais contando a história das meninas para pedir ajuda. Erismar afirma que tem recebido auxílio de muitas pessoas desde então. Agora, a intenção da família é conseguir colocar as meninas como pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).


“A gente vive muito sem ajuda, só dos bicos que eu faço, o auxílio que eu recebia, e o trabalho do Guilherme. Tem uns dias que eu e minhas amigas começamos uma campanha pelo Instagram, mas eu não sabia que teria tanta repercussão. A gente conseguiu bastante coisa. É uma ajuda mas a gente não pode esperar sempre por isso”.

Com informações do G1