Parlamentares da bancada federal do Pará reprovaram ontem (5) em Brasília (DF) o silêncio da Vale sobre os paraenses que estão nas listas de funcionários desaparecidos, e encontrados, vivos ou mortos, após quase duas semanas do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). O deputado Joaquim Passarinho (PSD) questionou o posicionamento da empresa, que alegou a recusa de informação “para manter a privacidade das famílias dos atingidos”.
“Na minha opinião, são as famílias quem têm que dizer se querem ou não divulgar as informações. O sigilo é um direito da família. A empresa não tem o direito de dizer que está preservando as vítimas, sendo que ela está preservando a ela mesma. Como são vidas, primeiro temos que ver o direito da família. Se a família não está restringindo informação, então não há o que restringir. A Vale não é dona da vida dessas pessoas”, opinou o parlamenta
FAMÍLIAS ÀS CEGAS
O deputado do PSOL, Edmilson Rodrigues, que no ano passado coordenou a comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanhou as investigações sobre o vazamento de rejeitos minerais no município de Barcarena, comentou que essa prática de esconder informações é recorrente dessas empresas envolvidas em tragédias. “A transparência tem que ser total, porque nós temos o direito de saber. Esse direito é dos familiares, mas também de toda a sociedade”, manifestou.
Edmilson lembrou de um documentário sobre a construção da Hidrelétrica das Três Gargantas, a maior usina do mundo, construída na China. Segundo ele, o vídeo mostra que a população só tomou conhecimento do número de vítimas a partir desse documentário, que foi proibido de passar na China, mas como foi pirateado chegou à população. “A surpresa para os chineses era, justamente, porque o número divulgado pelo documentário era muito superior as informações oficiais do governo chinês. Ou seja, a falta de informação da Vale remete ao autoritarismo do governo chinês”, analisou.
TRANSPARÊNCIA
O deputado Paulo Bengtson (PTB) também se manifestou totalmente contrário a ausência de informação. “Isso não condiz com a fala do presidente da Vale que se mostrou muito solidário com as famílias. Teria que partir dele um canal de comunicação para acabar com a aflição dessas famílias. Hoje eu ouvi, por exemplo, que os bombeiros estão quase encerrando as buscas por não conseguirem mais recuperar os corpos. Agora, imagine a família sem informação e sem o direito de sepultar o seu parente”, comentou o deputado, sugerindo, em seguida, que as empresas responsáveis pelas barragens tenham um compromisso ainda maior com a transparência das informações.
“Eu defendo uma transparência em um nível ainda maior. Sou a favor de que onde tenha uma barragem, a população dos municípios que abrigam essas estruturas, saibam de tudo, do plano de fuga, de como está sendo construída, do tipo de construção que está sendo realizada, da manutenção… Ou seja, é direito da pessoa que mora próximo a essas áreas de risco ter conhecimento de como ela está expondo a sua vida”, disse.
MESMO TOM
Procurada pela redação integrada de O Liberal desde a semana passada, para que o esforço de cobertura da trajédia tivesse maiores detalhes sobre vítimas paraenses entre os funcionários da empresa listados entre desaparecidos, encontrados vivos e mortos confirmados após o ocorrido, a Vale vem limitando-se repetir que, “para manter a privacidade das famílias dos atingidos pelo rompimento da barragem I, em Brumadinho, dados pessoais estão sendo preservados”. Segundo a empresa, nesse momento a “prioridade máxima é o atendimento às pessoas afetadas, com todo apoio e assistência necessárias”.
A empresa diz ainda que “está prestando todo o apoio à população e aos familiares dos atingidos” e que também montou um Comitê de Ajuda Humanitária, que seria formado por assistentes sociais e psicólogos, “para prestar assistência às vítimas e famílias dos atingidos”.
A Vale também diz que foram montados postos de atendimento, como a Estação Conhecimento de Brumadinho, “onde as principais atividades no local são acolhimento às famílias, triagem e encaminhamento de desabrigados para hotéis, registro dos familiares para recebimento de doações pela Vale, suporte assistencial e psicológico, além de refeitório com alimentação gratuita para as famílias”.
Segundo a Vale, uma equipe de médicos, assistentes sociais e psicólogos também estaria atuando no “acolhimento, escuta e conforto às pessoas que estão à espera de notícias dos parentes”.
Fonte: OLIBERAL.COM