Pesquisas revelam papel vital das palmeiras na regulação hídrica da Amazônia

Estudos da Unesp mostram que palmeiras armazenam até duas vezes mais água do que outras árvores e são essenciais para o equilíbrio ecológico da floresta.
Palmeira patauá (Oenocarpus bataua) em um baixio na Amazônia Central. Pesquisadores vão instalar sensores na espécie para estimar o armazenamento de água. (Foto: Thaise Emilio/IB-Unesp)

As palmeiras da Amazônia, muito além de seu valor econômico e paisagístico, desempenham um papel crucial na manutenção do ciclo da água da maior floresta tropical do planeta.

Pesquisas conduzidas por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no âmbito do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima), apontam que essas plantas conseguem armazenar até duas vezes mais água do que espécies arbóreas tradicionais, como o ipê, o mogno e o eucalipto.

Os resultados preliminares foram apresentados pela professora Thaise Emilio, coordenadora do projeto e pesquisadora do CBioClima, durante o Fórum Brasil-França 2025 “Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas”, realizado na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O evento integrou a Temporada França-Brasil 2025, reforçando a cooperação científica entre os dois países na busca por soluções frente às mudanças climáticas e à conservação da Amazônia.

Segundo Emilio, “as palmeiras funcionam como verdadeiras caixas d’água da floresta”, armazenando até 70% do volume de seu tronco em água, índice significativamente superior ao das árvores dicotiledôneas, que chegam a reter cerca de 50%.

Durante as estações secas, essa capacidade aumenta, garantindo alimento para animais e comunidades humanas que dependem de seus frutos, como o açaí e o buriti.

As descobertas resultam de uma série de experimentos realizados desde 2017, em colaboração com instituições da França e do Reino Unido, incluindo o Soleil Síncrotron, em Paris, e a Universidade de Edimburgo, na Escócia.

As análises mostraram que, embora as palmeiras sejam vulneráveis à seca como outras plantas, sua alta reserva hídrica lhes confere uma vantagem decisiva para resistir a períodos prolongados de estiagem — fenômeno cada vez mais frequente na Amazônia.

O estudo também alerta para o risco crescente que as alterações no ciclo hidrológico representam para essas espécies.

“O aumento da frequência de secas intensas e chuvas extremas ameaça o equilíbrio das palmeiras e, por consequência, da biodiversidade amazônica”, afirma Emilio. Modelos em desenvolvimento indicam que as palmeiras podem morrer até duas vezes mais do que outras árvores em cenários climáticos mais secos.

Durante o fórum, especialistas brasileiros e franceses destacaram a responsabilidade compartilhada sobre a Amazônia, que se estende até o território da Guiana Francesa. O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, ressaltou que o destino da floresta “pode determinar o destino da humanidade”.

O evento também reuniu representantes da Universidade de São Paulo (USP), do Museu Nacional de História Natural da França (MNHN) e de instituições públicas e privadas, reafirmando o papel da pesquisa científica como ferramenta essencial para compreender e proteger a Amazônia diante das mudanças globais.

COP30 e o futuro da pesquisa amazônica

Com a proximidade da COP30, em Belém, os achados sobre o papel das palmeiras reforçam a necessidade de políticas baseadas em evidências científicas para preservar os ecossistemas amazônicos.

O avanço do conhecimento sobre a relação entre espécies vegetais e o regime hídrico da floresta é fundamental para entender os impactos do aquecimento global e orientar estratégias de adaptação e conservação no coração verde do planeta.


(Da Redação do Fato Regional, com informações da Agência Fapesp).

 

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