Nesta quinta-feira (2), produtores rurais que foram retirados da Extensão Apyterewa, em São Félix do Xingu, no sul do Pará, realizaram ato de protesto nas margens PA-279, no Caiteté, em Ourilândia do Norte.
A manifestação foi pacífica, com faixas e entrega de panfletos às pessoas que transitavam pela rodovia estadual. A ação serviu para marcar dois anos da operação de desintrusão da área.
A operação iniciou em outubro de 2023 e concluída em 2024. Ela retirou da Extensão Apyterewa cerca de 2,5 mil famílias de uma área de cerca de 780 mil hectares.

Segundo o presidente da Associação do Vale Centro da Extensão Apyterewa, Vicente Lima, a associação e os trabalhadores estiveram reunidos de forma pacífica para encontrarem uma solução para a vida dessas famílias.
“Estamos reunidos aqui para pedir que autoridades, políticos e a Justiça olhem de fato para este povo, e não simplesmente varram o problema para debaixo do tapete. O problema existe, o povo está nas ruas, à beira das estradas, passando necessidade. Muitas famílias enfrentaram depressão, algumas perderam entes queridos e tiveram suas vidas destruídas”, destaca Vicente Lima.
Acrescentou ainda que estavam ali pacificamente para garantir que a situação não caísse no esquecimento e lembrou que faltavam apenas 30 dias para a COP30, razão pela qual, segundo ele, as autoridades precisavam agir e resolver a questão.

Há dois anos, ainda segundo ele, a área foi destruída pela operação desintrusão. O local já era uma vila, onde moravam cerca de 10 mil pessoas, com mais de 600 casas, posto de gasolina, escola, quatro igrejas, cinco supermercados, farmácia, restaurante e milhões de pés de cacau foram queimados.

“A operação destruiu completamente a área, que era uma vila com cerca de 10 mil moradores, mais de 600 casas, escola, posto de gasolina, quatro igrejas, cinco supermercados, farmácia, restaurante e milhões de pés de cacau queimados. Tentaram realocar indígenas para dentro da vila, a mais de 200 km da aldeia deles, mas não funcionou — eles não são originários dali e a área é enorme, quase um milhão de hectares”, completa o presidente da Associação.
Segundo ele, falta bom senso e disposição para negociar uma solução justa, pois há espaço para todos. Ressaltou ainda que, caso não haja alternativa, as pessoas devem ser indenizadas, uma vez que o povo continuava com fome e o problema persiste.

A agricultora rural Mercelene esteve no ato e disse que a ação é importante para não deixar o episódio ocorrido contra as famílias passar em branco.
“Não podemos deixar a história da Extensão Apyterewa ser enterrada, porque houve conflitos, apreensão de pessoas e mortes. Até hoje aguardamos um retorno da justiça, porque essas famílias não foram amparadas nem têm para onde ir, vivem amparadas por parentes ou de aluguel. Cremos que a nossa voz vai ser propagada”, afirma.

Operação
A desintrusão foi realizada pelo Governo Federal, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República, através de uma operação conjunta que envolveu diversos órgãos como a Força Nacional, Polícia Federal, Ibama, Funai e o Ministério dos Povos Indígenas, entre outros.


CLEIDE MAGALHÃES, com informações de WESLEY COSTA, da Redação do Fato Regional).
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