Produtores rurais da Extensão Apyterewa fazem ato pacífico em memória da expulsão de moradores da área

Manifestação ocorreu às margens da PA-279 e reuniu famílias que pedem apoio e soluções para os impactos da desintrusão realizada há dois anos.
Agricultores e moradores reafirmam a necessidade de atenção das autoridades e da Justiça para a situação das famílias afetadas. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

Nesta quinta-feira (2), produtores rurais que foram retirados da Extensão Apyterewa, em São Félix do Xingu, no sul do Pará, realizaram ato de protesto nas margens PA-279, no Caiteté, em Ourilândia do Norte.

A manifestação foi pacífica, com faixas e entrega de panfletos às pessoas que transitavam pela rodovia estadual. A ação serviu para marcar dois anos da operação de desintrusão da área.

A operação iniciou em outubro de 2023 e concluída em 2024. Ela retirou da Extensão Apyterewa cerca de 2,5 mil famílias de uma área de cerca de 780 mil hectares.

Faixas foram colocadas durante ato pacífico às margens da PA-279. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

Segundo o presidente da Associação do Vale Centro da Extensão Apyterewa, Vicente Lima, a associação e os trabalhadores estiveram reunidos de forma pacífica para encontrarem uma solução para a vida dessas famílias.

“Estamos reunidos aqui para pedir que autoridades, políticos e a Justiça olhem de fato para este povo, e não simplesmente varram o problema para debaixo do tapete. O problema existe, o povo está nas ruas, à beira das estradas, passando necessidade. Muitas famílias enfrentaram depressão, algumas perderam entes queridos e tiveram suas vidas destruídas”, destaca Vicente Lima.

Acrescentou ainda que estavam ali pacificamente para garantir que a situação não caísse no esquecimento e lembrou que faltavam apenas 30 dias para a COP30, razão pela qual, segundo ele, as autoridades precisavam agir e resolver a questão.

Vicente Lima, presidente da Associação do Vale Centro da Extensão Apyterewa, durante o ato pacífico. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

Há dois anos, ainda segundo ele, a área foi destruída pela operação desintrusão. O local já era uma vila, onde moravam cerca de 10 mil pessoas, com mais de 600 casas, posto de gasolina, escola, quatro igrejas, cinco supermercados, farmácia, restaurante e milhões de pés de cacau foram queimados.

Faixas com mensagens que lembram o fato ocorrido há dois anos. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

“A operação destruiu completamente a área, que era uma vila com cerca de 10 mil moradores, mais de 600 casas, escola, posto de gasolina, quatro igrejas, cinco supermercados, farmácia, restaurante e milhões de pés de cacau queimados. Tentaram realocar indígenas para dentro da vila, a mais de 200 km da aldeia deles, mas não funcionou — eles não são originários dali e a área é enorme, quase um milhão de hectares”, completa o presidente da Associação.

Segundo ele, falta bom senso e disposição para negociar uma solução justa, pois há espaço para todos. Ressaltou ainda que, caso não haja alternativa, as pessoas devem ser indenizadas, uma vez que o povo continuava com fome e o problema persiste.

Famílias protestam em Ourilândia do Norte lembrando os dois anos da desintrusão da Apyterewa. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

A agricultora rural Mercelene esteve no ato e disse que a ação é importante para não deixar o episódio ocorrido contra as famílias passar em branco.

“Não podemos deixar a história da Extensão Apyterewa ser enterrada, porque houve conflitos, apreensão de pessoas e mortes. Até hoje aguardamos um retorno da justiça, porque essas famílias não foram amparadas nem têm para onde ir, vivem amparadas por parentes ou de aluguel. Cremos que a nossa voz vai ser propagada”, afirma.

Imagens de drone revelam a área que foi retirada durante a operação. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

 

Operação

A desintrusão  foi realizada pelo Governo Federal, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República, através de uma operação conjunta que envolveu diversos órgãos como a Força Nacional, Polícia Federal, Ibama, Funai e o Ministério dos Povos Indígenas, entre outros.

Manifestantes reunidos no barracão durante ato em defesa de seus direitos e por soluções ao conflito. (Foto: Wesley Costa/Fato Regional)

 


CLEIDE MAGALHÃES, com informações de WESLEY COSTA, da Redação do Fato Regional).

Siga o Fato Regional no Facebook, no Instagram e no nosso canal no WhatsApp!



 

Leia mais