sexta-feira, 22 de novembro de 2024

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Projeto busca mais qualidade de vida e trabalho para refugiados Waraos no Pará

A procuradora do Trabalho do MPT de Marabá, Juliana Mafra, diz que além do artesanato, a intenção é que os Waraos possam voltar a pescar na região
Crédito: Divulgação/MPT-PA

As cores do artesanato, os detalhes na confecção de peças feitas da palmeira de buriti, os rostos com fortes traços, tudo isso retrata a beleza de um povo milenar e a busca pela manutenção da sua cultura e tradições de um povo que luta pela sua sobrevivência.

Atualmente, os Waraos, povo das águas ou povo das canoas, representam 66% dos indígenas venezuelanos refugiados no Brasil, de acordo com o levantamento feito sobre as Atividades para População Indígena da agência da ONU para refugiados (ACNUR). No documento aponta que eles começaram a chegar ao Brasil entre 2014 e 2016 e podem ser encontrados em pelo menos 16 estados de todas as regiões brasileiras, porém,su maior concentração está no norte do país, principalmente em Roraima, Amazonas e Pará.

“Os Waraos estão aqui em Marabá, no sudeste paraense, de uma forma mais fixa há dois anos. Com a chegada da pandemia, a situação de vulnerabilidade dessa população piorou muito e nós, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), junto com representantes dos governos municipal, estadual e federal formamos um comitê para propor políticas públicas para proteger e ajudar os indígenas.” , conta a irmã Zélia Batista, da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, integrante do CIMI. “Eles querem trabalhar, eles pedem a fibra do buriti, material que usam para fazer o artesanato. ”

Em março deste ano, os Waraos puderam começar a coletar o olho da palmeira de buriti em bairros de Marabá. A ação teve o apoio das secretarias de Cultura e de Assistência Social do município e do Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio do projeto Àwúre.

A procuradora do Trabalho do MPT de Marabá, Juliana Mafra, diz que além do artesanato, a intenção é que os Waraos possam voltar a pescar na região. “O objetivo é, principalmente, valorizar a origem deles. Fazer com que eles possam se sentir dignos, resgatar a autoestima”, diz ela.

Distantes 700 quilômetros de Marabá, no município de Santarém, oeste paraense, estão outras quase 40 famílias de Waraos atendidas pelo Nonakitane Yakeraja Jakitane (em busca de um futuro melhor, em warao), projeto que faz parte do Àwúre.

A procuradora do MPT de Santarém, Tatiana Amormino, explica que os Waraos são um povo nômade. Eles não se adaptam a trabalhos comuns e não têm conhecimento para realizar um planejamento financeiro, por exemplo. O projeto Nonakitane Yakeraja Jakitane procura repassar esse tipo de conhecimento para os indígenas, mas busca também proporcionar meios para que eles consigam renda, trabalhando dentro de suas tradições.

“O próximo passo é passar conhecimento para os Waraos para que eles possam organizar a venda desses artesanatos. O projeto favorece a autossustentabilidade e a eliminação das piores formas de trabalho, incluindo o trabalho infantil”, disse Tatiana.

A oficial técnica de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da OIT, Thaís Faria, lembra que a convenção 169, da OIT, de 1989, sobre povos indígenas e tradicionais foi ratificada pelo Brasil em 2002. A convenção é um marco internacional na preservação e na defesa de direitos desses grupos. Dá diretrizes aos governos que ratificaram essa convenção e assegura a escuta ativa das populações. “Sem essa escuta é impossível desenvolver políticas e ações que efetivamente preservem esses patrimônios tão importantes que são a cultura, o meio ambiente e os conhecimentos ancestrais. A garantia do trabalho decente para os povos indígenas e tradicionais está ligada a escuta desses grupos, a valorização da sua terra, de sua cultura e das novas formas de organização social. É importantíssimo que haja cada vez mais essa escuta na construção de todas nossas políticas nacionais e internacionais”.

Os Waraos já viviam na Venezuela bem antes da chegada dos europeus à região. São o segundo maior grupo étnico da Venezuela somando quase 49 mil pessoas, segundo o último censo venezuelano. Nos tempos atuais, eles começaram a ter sérios problemas no século 20 com a poluição das águas de onde tiravam o sustento. Com muita dificuldade para sobreviver da pesca, caça, coleta de frutas e da confecção de artesanato, os Waraos começaram a se deslocar para outros países, entre eles o Brasil, a partir de 2014. A maioria dos Waraos espalhados pelo Brasil tira o sustento nas ruas pedindo alimentos e dinheiro, algo que eles chamam de coleta.


O Àwúre, projeto do MPT, da OIT e do UNICEF, busca, entre outros objetivos, trazer para os indígenas venezuelanos sentimentos e mudanças como a falada pelo artesão Warao Omar Maraleda, ao conseguir voltar a produzir o artesanato milenar com o buriti. “É a oportunidade de mostrar nosso trabalho. Deixar de ir para a rua fazer nossa ‘coleta’. Produzir nosso artesanato, vender e ter uma renda”.

 

Fonte: Ministério Público do Trabalho