quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Projetos buscam dar mais qualidade de vida aos idosos

Por meio de visitas domiciliares e oficinas variadas, o objetivo é aumentar a autoestima dessa população

O crescimento da população idosa no Brasil gera debates sobre a qualidade de vida e o bem-estar na terceira idade. Representando 14,3% dos brasileiros, ou seja, 29,3 milhões de pessoas, segundo o Ministério da Saúde, o número de idosos, em 2030, deve superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Isso pode ser explicado por conta da média de vida do brasileiro, que, nas últimas sete décadas, aumentou 30 anos, saindo de 45,4 anos, em 1940, para 75,4 anos, em 2015. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou que o número de pessoas com 65 anos de idade ou mais cresceu 26% apenas entre 2012 e 2018.

Com essa evolução, criam-se mecanismos para defender a população idosa e proporcionar momentos de lazer. O projeto “Despertar o Inconsciente Artístico”, organizado pela Associação dos Idosos do Pará (Assipa), vai atuar exatamente dessa forma. A partir de 2020, a entidade vai reunir uma equipe de voluntários para prestar serviços às pessoas idosas de Belém.

Entre as ações, serão oferecidas oficinas de artes cênicas, englobando dança, canto, expressão corporal e facial, respiração, laboratório teatral, dramatização, história do teatro, história do Brasil e outros temas, cujas aulas serão lideradas pela presidente da Assipa e professora de artes cênicas, Selma Quintela. Outros cinco voluntários poderão ingressar no projeto, para trabalhar na organização e na execução das turmas.

Embora a previsão de início das atividades seja em março do ano que vem, as inscrições já começam em meados de janeiro e seguem até o dia 10 de fevereiro, sendo que apenas 15 vagas estarão disponíveis. O único requisito para ingressar no projeto é saber ler, já que as disciplinas terão material de apoio para leitura. Já os voluntários devem ter conhecimento sobre as áreas específicas que serão ministradas.

De acordo com a presidente, a maior importância da ação é aumentar a autoestima das pessoas idosas que forem beneficiadas, assim como proporcionar mais qualidade de vida. “A música, a dança e o teatro despertam no indivíduo o que está oculto em relação à arte. Há pessoas que gostam de assistir e nem imaginam que possuem essa veia artística, acreditam que essas coisas só podem ter início na infância. Com essa oportunidade, o pensamento muda, e os dias parecem mais belos. A autoestima melhora e a vida ganha mais qualidade”, pontuou Quintela.

O projeto, apesar de ser, prioritariamente, destinado a pessoas da terceira idade, também vai aceitar outras faixas etárias interessadas. “Nosso objetivo é a inclusão. Queremos mostrar que nunca é tarde para descobrir seu talento, mas também existem muitas pessoas perdidas. Basta que a oportunidade chegue e que você a abrace, sem medo de ser feliz. É uma esperança que vai trocar seus dias cinzentos por outros melhores e coloridos”, disse a presidente da Assipa e organizadora do projeto.

Quintela ainda destacou que o serviço será totalmente voluntário e não terá ônus para quem estiver interesse. Segundo ela, a associação é filantrópica, sem fins lucrativos e não recebe ajuda de nenhuma esfera governamental, políticos ou empresas.

Na Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), ligada à Arquidiocese de Belém, da Igreja Católica, também são desenvolvidas atividades para acolher pessoas da terceira idade. Os acolhimentos funcionam na forma de visitas domiciliares mensais – cerca de 3.350 pessoas são visitadas por 700 agentes por mês. De acordo com a coordenadora da Pastoral, Criseida Pereira, os voluntários são preparados para as visitas em uma formação.

“Uma das dinâmicas que fazemos é mostrar uma orelha e um olho enormes e uma boca bem pequena, porque esse é o modelo de visita de que precisamos: a visita é uma conversa, é muito mais de escuta do que de fala. Muitos idosos estão dentro da família renegados, ninguém quer ouvir, ninguém dá atenção. Então o agente vai a sua casa e disponibiliza seus ouvidos para eles. Todos ficam muito alegres e a autoestima e o astral crescem muito, eles se sentem importantes”, contou Pereira.

Além das orientações religiosas, a equipe trabalha para melhorar a qualidade de vida das pessoas visitadas, discutindo a alimentação, exercício físico, sedentarismo, ingestão de líquidos e outros. Em alguns casos, um padre acompanha os agentes – que fazem as visitas em duplas, inspirados nos apóstolos – para ministrar a unção dos enfermos, quando os moradores estão fragilizados. “É uma missão. A Pastoral serve a Deus por meio das pessoas idosas”, pontuou a coordenadora. Uma das metas para o próximo ano é alcançar mais paróquias – a Pastoral só está presente em 60 das 92 que existem em Belém. Dessa forma, com mais voluntários, mais pessoas poderão ser visitadas pelas equipes.

Profissional fala sobre desafios

Por meio de ações e propostas de inclusão social e exercício de cidadania, os assistentes sociais desempenham um papel importante junto ao público da terceira idade. De acordo com a assistente social Amanda Costa, mestra e doutoranda na área de Psicologia do Desenvolvimento, os profissionais dessa área trabalham na perspectiva de promoção, garantia e defesa dos direitos das pessoas idosas, na gestão, planejamento, monitoramento e avaliação de políticas públicas, programas e projetos que atendem esse público – conforme o Estatuto do Idoso, todas as pessoas aquelas acima de 60 anos.

Essa atuação inclui o trabalho em clínicas, instituições de longa permanência, operacionalização de benefícios, coordenação de grupos de convivência e outros, em contato com profissionais como enfermeiros, psicólogos, geriatras, nutricionistas e outros. “As principais necessidades estão vinculadas à classe social a que os idosos pertencem. Uma grande parte da população idosa está em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Isso significa a necessidade de inclusão em programas de benefícios”, destacou.

Além disso, outra demanda é a violência contra a pessoa idosa nos âmbitos físico, psicológico, sexual, moral e patrimonial. De acordo com Costa, isso se apresenta como consequência de outra necessidade: a fragilidade ou ruptura dos vínculos familiares. “A família, pensada como fonte de apoio e proteção durante a velhice, torna-se de fator de risco para o bem-estar do idoso”, disse.


Para ela, um dos desafios está relacionado à capacitação dos profissionais, já que, segundo a assistente social, há uma quantidade reduzida de pessoas capacitadas para lidar com os idosos de maneira específica, atendendo a suas demandas particulares. “Também há dificuldades comuns aos perfil das pessoas idosas em instituições de longa permanência, como as dificuldade neuropsicomotoras de um modo geral, dificuldade em ver os descendentes ou responsáveis legais como violadores de direitos e o desconhecimento dos direitos”, destacou. Para a especialista, é preciso enfrentar o desafio e acolher esse público e garantir seus direitos.

 

Fonte: O Liberal