sexta-feira, 10 de maio de 2024

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Promotora Carmen Eliza se afasta do caso Marielle

Uma das 3 investigadoras, ela pediu para sair após repercussão de posts de apoio à campanha de Bolsonaro em 2018. Corregedoria do MP instaurou procedimento para análise das postagens. Em carta, Carmen citou 'reflexos negativos no ambiente familiar e de trabalho'.

A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho pediu nesta sexta-feira (1º) o afastamento das investigações do Ministério Público do Rio (MPRJ) sobre a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.

Carmen Eliza pediu para deixar o caso após a repercussão de posts em redes sociais que mostram ela apoiando a campanha do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, em 2018. A informação foi confirmada pelo MP e pela própria promotora, em carta aberta.

A Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou procedimento para análise das postagens de Carmen.

Saída um dia após reunião tensa

Na noite de quinta-feira (31), a cúpula do MP no Rio de Janeiro se reuniu para pedir o afastamento. A TV Globo apurou que o encontro teve momentos tensos, com gritos e discussões. O afastamento de Carmen Eliza era dado como certo, mas a promotora se recusou a sair do caso – é prerrogativa dos membros do MP decidir em quais investigações desejam atuar.

No fim da tarde desta sexta, a saída foi confirmada. Em nota, o MP disse que “reconhece o zeloso trabalho” da promotora, “que nos últimos dias vem tendo sua imparcialidade questionada (…) por exercer sua liberdade de expressão como cidadã”.

A promotora Carmen Eliza também divulgou um texto (leia a íntegra no fim da reportagem), no qual diz que a “liberdade de expressão deve ser respeitada”, que “um promotor não perde seu direito de cidadão” e que, em 25 anos de carreira no MP, “jamais” atuou sob “qualquer influência política ou ideológica”

“Em razão das lamentáveis tentativas de macular minha atuação séria e imparcial, em verdadeira ofensiva de inspiração subalterna e flagrantemente ideológica, cujos reflexos negativos alcançam o meu ambiente familiar e de trabalho, optei, voluntariamente, por não mais atuar no Caso Marielle e Anderson”, disse Carmen Eliza.

Parentes de Marielle e Anderson pediram permanência, diz MP

De acordo com o Ministério Público, os pais de Marielle, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, e a viúva de Anderson, Agatha Arnaus Reis, defenderam a permanência de Carmen Eliza à frente do processo penal.

O MP diz ainda que Carmen Eliza foi escolhida para o caso por “critérios técnicos” pela sua “incontestável experiência” e pela “eficácia comprovada de sua atuação em julgamentos no Tribunal do Júri”.

MP contradiz depoimento de porteiro

A promotora foi uma das três do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que participou de uma entrevista coletiva sobre o caso na quarta-feira (30). Na ocasião, elas afirmaram que um áudio provava que o ex-PM Élcio de Queiroz, preso pelas execuções de Marielle e Anderson, teve sua entrada no condomínio Vivendas da Barra, horas antes do crime, liberada pelo PM reformado Ronnie Lessa, o outro preso pelos assassinatos.

Segundo as promotoras, o áudio contradiz o que um porteiro que estava na guarita do condomínio afirmou em dois depoimentos. Segundo o porteiro, ao chegar, Élcio disse que ia para a casa 58, que pertence a Bolsonaro – Ronnie mora na casa 65. Disse também que, ao interfonar, um homem que ele identificou como o “Seu Jair” liberou a entrada.

Como informou o Jornal Nacional na terça-feira, o então deputado Jair Bolsonaro estava em Brasília e marcou presença em duas votações na Câmara dos Deputados, em horários muito próximos ao da chegada de Élcio ao condomínio – por volta das 17h10. Portanto, não poderia estar no condomínio e ter atendido o interfone.

“Toda a cadeia foi exaurida de diligência pelo Ministério Público e pela policia (…) Nada ficou sem se fazer diligência. Tudo foi esclarecido. E graças a todas as diligências nos chegamos à conclusão técnica de que aquela voz que autorizou a entrada de um dos co-réus na ação penal é a voz do outro réu na ação penal”, explicou a promotora Carmen Eliza.

Os questionamentos sobre a imparcialidade da promotora no caso surgiram depois que apareceram fotos em que ela apoiava Bolsonaro. Em uma delas, a promotora usa uma camiseta com o rosto do então candidato e a frase: ‘Bolsonaro presidente’.

Em outra postagem, de 1º de janeiro, Carmen Eliza fotografou a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro e escreveu na legenda: “Há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas, como se fosse uma vitória”.

Em outra (veja acima), Carmen Eliza aparece abraçada com o deputado Rodrigo Amorim, do PSL do Rio, que quebrou um placa em homenagem à vereadora Marielle Franco durante um comício de campanha.

Perícia criticada

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais deu uma entrevista coletiva, nesta sexta, em Brasília, e criticou pontos da perícia feita pelo Ministério Público. A forma e a rapidez com que o trabalho foi concluído foram questionadas.

Na quinta, o Jornal Nacional mostrou que os peritos responderam às perguntas das promotoras em apenas 2h25min. Perguntas que só foram feitas um dia depois de a TV Globo revelar o depoimento do porteiro.

Fonte: G1