Pouco mais de um mês após a publicação de supostas mensagens trocadas entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recebe nesta terça-feira, 16, o coordenador da operação, Deltan Dallagnol, e outros integrantes do grupo de Curitiba. Na reunião, convocada por Raquel, ela deve ouvir as explicações dos procuradores e discutir uma posição oficial sobre o episódio.
As conversas, divulgadas pelo site The Intercept Brasil, mostram suspeita de conluio entre a equipe de procuradores e o ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Os citados negam irregularidades e afirmam não ser possível garantir que as mensagens, trocadas por meio do aplicativo Telegram, sejam autênticas.
Após a divulgação dos diálogos, a Procuradoria já se manifestou contra pedidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que apontam suspeição de Moro na condução do processo. Raquel também pediu à Polícia Federal que investigue os ataques virtuais sofridos pelos procuradores que levaram à exposição das mensagens.
Nos bastidores, no entanto, procuradores cobram uma defesa pública mais enfática da Procuradoria diante de ataques ao Ministério Público Federal.
A informação na PGR é de que a reunião já estava sendo articulada há semanas e não tem relação com nenhum conteúdo específico divulgado na imprensa recentemente.
‘Cruzada moral’
Em dura nota divulgada nesta segunda-feira, 15, a Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos (PFDC) afirmou que as investigações contra corrupção não devem se tornar uma “cruzada moral”. É o principal órgão do MPF nessa área.
Em referência à publicação dos diálogos atribuídos a Moro e a procuradores, disse que a apuração deve “respeitar integralmente todos os direitos fundamentais” fixados na Constituição e que é inadmissível que o Estado, “para reprimir um crime, por mais grave que seja, se transforme, ele mesmo, em um agente violador de direitos”.
O comunicado não faz menção direta a Moro e a Dallagnol, mas diz que o caso “reforça a necessidade de compreensão das diversas dimensões dos direitos humanos e de promoção conjunta do enfrentamento à corrupção, do devido processo legal”. Um trecho da nota afirma que um dos elementos essenciais é o direito a um julgamento perante juízes “independentes e imparciais, no qual o réu e seus advogados são tratados com igualdade de armas em relação ao acusador”.
O Estado apurou que o teor da nota incomodou procuradores de outros setores do MPF porque teria faltado diálogo. Já a assessoria de Raquel Dodge disse que a PFDC tem atuação independente. Também ontem, o PSOL protocolou uma representação contra Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público.
Fonte: Agência Estado