A partir das 16h desta sexta-feira (17), entrará em cena os dirigentes do futebol paraense. Todos os 10 clubes do Campeonato Paraense 2020, além dos gestores da Federação Paraense de Futebol (FPF), estarão reunidos, em videoconferência, para definir os rumos da competição estadual, paralisada para evitar a propagação do novo coronavírus.
No entanto, não se tem convicção de que a reunião, de fato, terminará com deliberações. A FPF, apoiada em argumentações do Tapajós, apresentará uma proposta de conclusão do Parazão em dezembro, após a Série C do Brasileirão. Na ideia, estaria descarta o rebaixamento de dois clubes. Inicialmente, a proposta foi analisada de forma favorável por, pelo menos, oito clubes, contudo, segundo a apuração da reportagem, já não tem tanta aceitação em função do impacto financeira que causará.
O Paysandu, por exemplo, já manifestou opinião contrária a ideia de jogar em dezembro, alegando que é um mês de pouca movimentação financeira e de rescisões contratuais. Além disso, o presidente Ricardo Gluck Paul teme os efeitos da pandemia. O Remo, por sua vez, aprova a proposta do Tapajós.
Primeira reunião
O fato é que há divergências que tornam o dito consenso quase que impossível. O regulamento da Federação Paraense de Futebol (FPF) é enfático ao falar que qualquer mudança no regulamento da competição, quando já iniciada, precisa ter a aprovação de todos os 10 clubes.
Foi o argumento utilizado para derrubar a ideia inicial, que era encerrar o Parazão mantendo as colocações atuais – sendo que o Paysandu seria campeão, Remo vice, além de Castanhal e Paragominas classificados para a Série D e Copa do Brasil. O Papão foi entusiasta da referida proposta, bem como outros sete clubes. No entanto, a FPF sufocou e derrubou a ideia, apresentada em reunião na semana anterior.
Paysandu
Como a reportagem já havia adiantado, o Paysandu vai se opôr a ideia de jogar as demais partidas do Campeonato Paraense 2020 em meados de dezembro – o Parazão está paralisado para evitar a propagação do novo coronavírus e não há uma definição quanto ao encerramento ou sequência da competição. Ainda estão pendentes duas rodadas classificatórias, além de semifinais e finais.
A ideia de jogar em dezembro, porém, não agrada o Paysandu, que queria o encerramento da competição argumentando problemas financeiros diversos. “Não tem como, é impossível chegarmos a um acordo nestes termos. Com a mesma truculência (da FPF), induzindo patrocinadores a erros, falando de contrato, podemos falar que vendemos o campeonato dentro de uma temporada. O calendário brasileiro, para clubes da Série C, se encerra em novembro. Os nossos contratos se encerram em novembro”, alegou Ricardo, falando especificamente dos vínculos com os jogadores.
De acordo com a análise do presidente bicolor, essa proposta de finalização do campeonato em dezembro está fora de cogitação por motivos econômicos. “A federação tem um descolamento da realidade que nos indigna. Vocês não tem ideia de como o clube estará em dezembro após essa crise… No Brasil, já se fala de recessão acima de 6%. Como o Paysandu estará em novembro? Após um esforço fora do comum, com pouca ajuda… Chegar em novembro e pensar em renovação de contrato? Eles estão vivendo no mundo da lua”, acusou. “Se quiserem propor algo até o mês de novembro, podemos conversar. Em dezembro, está fora de questão”, garantiu.
O gestor bicolor alegou que dezembro é um mês de déficit financeiro, motivado por uma baixa arrecadação e rescisões contratuais com os atletas. “Dezembro é um mês que arrecadamos pouco, tem que fazer rescisão e querem me empurrar mais gastos? Mais um mês de folha? Estão loucos”, avaliou.
A opinião de Gluck Paul está apoiada com a do treinador Hélio dos Anjos. Durante o programa ‘Geral na Live’, de Oliberal.com, Hélio discordou da ideia de jogar o Parazão em dezembro. “Veja bem… O Tapajós não quer cair”, citando que o autor da proposta tem interesse. Segundo ele, o clube bicolor não pode arcar com uma despesa de manter o plantel até o final do ano, sobretudo, diante do cenário de indefinição econômica. “O Paysandu não tem jogador com contrato até dezembro. Quem pode dizer que o calendário da Série C não vá precisar dessas datas?”, questionou Hélio. “A reunião vai terminar do jeito que terminaram as outras. Não vai chegar em lugar nenhum. Não tem nem como discutir isso”, finalizou.
Porém, comandante bicolor crê que a disputa tem que ser definida com a bola rolando. “A disputa precisa ser definida em campo. Eu não vejo futebol no Brasil, pelo menos, até agosto”. E como defende isso, Hélio considerou inadmissível uma ideia de que um Re-Pa seria a final do certame com os demais clubes mantendo as posições do momento. “Proposta inaceitável. Vai desprestigiar os times do interior. O futebol paraense não se restringe a Remo e Paysandu”.
Remo
Em geral, a dupla Re-Pa está em campos opostos. A questão da sequência ou não do Parazão 2020 também coloca os titãs do futebol paraense em conflito.
O Remo não aceita a ideia inicial de concluir o campeonato, decretando o título do Paysandu, que é o primeiro colocado após oito rodadas da fase classificatória. “Nem terminamos de disputar a primeira fase. Não dá declarar campeão”, garantiu o presidente azulino, Fábio Bentes.
Bentes gostou da proposta do Tapajós que defende encerramento do campeonato em dezembro. Contudo, avalia as questões econômicas envolvidas. Tanto é que tem um plano B. “Se os clubes não quiserem esperar por questões financeiras, tem que considerar duas coisas: não dá pra proclamar campeão quando não se terminou nem a primeira fase da competição. São três fases distintas (sobre o regulamento do Parazão). Outra situação: pode ser que precise devolver dinheiro”, disse, referindo-se a verba de patrocinadores. Aliás, os patrocinadores defendem a conclusão do campeonato.
O treinador remista, Mazola Jr, opinou sobre o assunto. E fez questão de ressaltar que se trata de uma ideia mantida por ele e não exatamente pela instituição. “Falar-se em data é irresponsabilidade. Aqui em São Paulo, vai terminar os estaduais. Essa reunião que terá pode até definir uma coisa… Que as coisas se decidam no campo. Que tenhamos calma e prudência”, recomendou.
(Fonte: Nilson Cortinhas, O Liberal)