O vice-prefeito e um vereador de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, no Pará, ameaçaram policiais militares e civis dentro de uma delegacia. Eles foram conduzidos à unidade após a PM atender a uma ocorrência de poluição sonora e aglomeração. Armando Brasil, promotor de Justiça Militar, do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), abriu uma investigação porque, após o fato, teria ocorrido uma troca imediata de comando no batalhão da cidade.
Tudo começou por volta de 21h deste domingo (19). Ao comprovarem a denúncia de barulho e aglomeração, os policiais militares informaram, ao dono do imóvel, que a festa precisava ser encerrada. O vice-prefeito Antônio Athar (Bambueta, do MDB-PA) e o vereador Odirvaldo Avelar (PSDB, um policial militar reformado) estavam no local.
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Com sinais de embriaguez, como relataram os policiais, Antônio e Avelar se recusaram a obedecer e incitaram as pessoas na casa a não parar a festa. Os ânimos foram se alterando até que os policiais deram voz de prisão por desacato e tentativa de agressão contra os servidores. Aparentemente, no vídeo, o vereador está com um ferimento na testa.
Na delegacia, o vereador seguia ofendendo os policiais aos gritos. Os PMs começaram a filmar a cena. Avelar dizia que eles eram autoridades e que a farda não oferecia nenhuma proteção aos policiais. O vice-prefeito então disse que queria prestar queixa contra os agentes e queria ser atendido primeiro. O servidor da Polícia Civil disse que ele não teria nenhum privilégio.
Entre as muitas ameaças, ambos diziam, afirmam os policiais militares, em relatos reservados, que iriam perseguir os PMs até que eles perdessem a farda. E que o sargento André, comandante do 74º pelotão do 8º Batalhão de Polícia Militar do Marajó Oriental, seria trocado por não intervir na história.
Ainda na noite deste domingo, o sargento teria recebido uma ligação do comandante do do 11º Comando de Policiamento Regional (CPR XI) e que ele iria ser transferido para o município de Santa Cruz do Arari. Seria para atender a um favor político de fazendeiros do município.
Vereador diz aos policiais que a farda não dá proteção nenhuma. Aparentemente, ele tem um ferimento na testa. (Reprodução / WhatsApp O Liberal)
Sequência de “carteiradas”
Armando Brasil disse que os fatos são gravíssimos e comparou com o caso do desembargador paulista Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, que na praia de Santos, desacatou um guarda municipal, chamando-o de “analfabeto”. Ele dizia ser a autoridade e se recusava a usar máscara, como determinam decretos municipais e estaduais de São Paulo.
O caso ocorre na esteira de outra recente “carteirada”, como uma mulher que diz que o marido dela não era cidadão, mas “engenheiro civil, formado, muito melhor” do que os agentes do Departamento de Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro. E o empresário de Alphaville, em São Paulo, que chama os policiais de “bosta”, “lixo” e “merda” porque, naquele bairro rico, a polícia não tinha poder como nas favelas.
Além do inquérito para investigar a situação de Cachoeira do Arari, que envolve aparelhamento político da Polícia Militar, como o caso envolve um vice–prefeito e um vereador, Armando Brasil informou que irá acionar o procurador geral de Justiça, do MPPA, para investigar o caso também. Caso comprovado, o comandante do CPR XI poderá responder a processo na Justiça Militar.
A redação integrada de O Liberal tenta contato com o vice-prefeito de Cachoeira do Arari e o vereador. Posicionamentos foram solicitados à Polícia Militar e à Polícia Civil.
O prefeito Jaime da Silva Barbosa (MDB-PA) disse que está em Belém desde quarta-feira (15), após uma morte na família. Mas confirmou que soube da história envolvendo o vice e o vereador. Porém, ainda abalado, preferiu não comentar.
Fonte: Liberal