terça-feira, 14 de maio de 2024

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Conheça a história da Folia de Reis de Ourilândia do Norte, manifestação cultural e religiosa que resiste ao tempo

Em 2023, a Folia de Reis de Ourilândia do Norte foi contemplada em um edital cultural da Vale e se prepara para investir na continuidade da tradição que remonta às origens e história do município
A Folia de Reis de Ourilândia do Norte foi fundada em 1987, pelo pioneiro João Rita, que junto com a família Teles deu início a uma tradição artística e religiosa (Foto: Divulgação)

Em 1987, vindo de Goiás, o senhor João Rita foi uma das muitas pessoas que buscou a oportunidade de construir uma nova vida na região sul do Pará. E então se instalou na área que hoje é o município de Ourilândia do Norte. Com ele, uma tradição cultural e religiosa, presente em alguns estados do eixo centro-sul do Brasil, veio junto: a Folia de Reis. O pioneiro já faleceu, mas deixou um legado que resiste ao tempo com a dedicação das novas gerações.

A Folia de Reis de Ourilândia do Norte, gradativamente, tem deixado a intimidade rústica da zona rural para marcar presença na área urbana. É um dos muitos toques de modernidade do grupo que agora tem, cada vez mais, jovens em meio a foliões mais idosos. Neste ano, fizeram uma apresentação durante o desfile de Sete de Setembro. E 2023 também foi o ano marcado por uma vitória: os foliões ourilandenses foram contemplados no edital Apoia, do Instituto Cultural Vale.

“Mas o que exatamente é a Folia de Reis de Ourilândia do Norte?”. É o que podem estar se perguntando alguns leitores. Pois trata-se de um espetáculo que mistura música, teatro e fé ao longo de sete dias. É uma epifania católica, com uma estrutura musical e narrativa que conta a história do nascimento do Menino Jesus e a jornada dos Três Reis Magos para visitá-lo e entregar os simbólicos presentes descritos na Bíblia: ouro, incenso e mirra.

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Em sete dias, os foliões passam por casas de famílias que apoiam a Folia de Reis de Ourilândia com música e fé (Foto: Divulgação)

Sete dias de celebração com música, fé e caminhada

Durante os sete dias de celebração, como conta Wesley de Jesus dos Santos, atual presidente da Folia de Reis de Ourilândia do Norte, os foliões vão de casa em casa, como se fossem os arautos do nascimento de Jesus. Por falta de foliões, em 2008, o grupo enfrentou o risco de deixar de existir, ainda que não haja exatamente um número fixo de participantes. Também enfrentaram a falta de incentivo. Para o grupo, ser contemplado no edital Apoia da Vale é o que pode mudar o futuro e consolidar a tradição no sul do Pará.

“A Folia de Reis está com o objetivo de não só fazer a caminhada tradicional de Janeiro, mas também fazer apresentações ao longo do ano e ministrar aulas diversas para a juventude, com incentivos para formar novos foliões e evitar que a cultura morra. A maioria dos foliões já tem uma certa idade e ainda são poucos os jovens que conhecem. Nossa esperança é seguir para as próximas gerações, como era o sonho e promessa de nossos avós de preservar essa tradição”, diz Wesley.

Entenda a estrutura e funções de cada membro da Folia de Reis:

  • O “mestre”, também conhecido como “guia”, “regente”, “embaixador” ou “capitão”: dá início ao canto
  • O “contramestre”, “contraguia” ou “resposta”: faz a segunda voz
  • O “ajudante”: dá suporte à primeira voz
  • O “contralto”: faz a terceira voz
  • O “tiple”: faz a quarta voz
  • O “contratiple”: é a quinta voz
  • O “tala”: som da sexta voz
  • O “talinha”: faz a sétima e última voz
  • O “alferes”: cuida da bandeira símbolo da folia
  • O “palhaço”: parte lúdica e teatral, que tem a função de distrair o mal, simbolicamente evitando que o rei Herodes chegue a Jesus

Fora da região da PA-279, a Folia de Reis de Ourilândia do Norte só começou a ser mais conhecida de três anos para cá. Algumas das pessoas que acompanham o trabalho dos foliões ourilandenses é de estados onde existem grupos de folia de reis. Há um circuito interestadual de apoio na manutenção e preservação da tradição. “Tem gente que vem de longe para ajudar na composição e outros para acompanhar por devoção. E em 2024 vamos compor a festa no Mato Grosso”, diz Wesley.

A Folia de Reis de Ourilândia persiste com algumas das famílias originais da tradição e segue com as novas gerações, se modernizando e buscando a formação de novos foliões para manter a tradição viva (Foto: Divulgação)

Dentre os objetivo de futuro da Folia de Reis de Ourilândia do Norte está investimento em audiovisual para melhor divulgação da tradição. Há ainda a proposta de ampliar as aulas de música, adquirir novos instrumentos e expandir a formação de foliões. Vários membros do grupo já se disponibilizaram a passar adiante os conhecimentos. “Nossos avós, Iraides e Cícero, disseram que não deixariam essa cultura morrer e nós estamos honrando esse compromisso”, conclui Wesley.

Logo após a chegada da folia de Reis em Ourilândia, a família Rita teve o apoio da família Teles, que foi fundamental para estabelecer a tradição e dar seguimento. Futuramente, contaram com o apoio da família Gonçalves e diversas outras.

Dona Iraides Gonçalves e Cícero Mariano – conhecido como Gente Boa -, avós de Wesley e Weslane. Eles foram os principais pilares para manter a Folia de Reis de Ourilândia no ano de 2008, um dos mais desafiadores da história do grupo e a quem os irmãos prometeram manter a tradição viva (Foto: Divulgação)

Os atuais membros da Folia de Reis de Ourilândia do Norte dedicam esta publicação, em memória de:

  • Geraldo Rita
  • Rosalino
  • Iraides Gonçalves
  • Cícero Mariano
  • Roberto
  • Divino
  • Antônio
  • Lázara
  • Sebastião
  • Cláudio
  • Olívio
  • E outros que fizeram parte dessa tradição.

(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional. Matéria especial e com reprodução somente mediante autorização)


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