Câncer é uma doença que provoca profundas alterações na vida e rotina dos pacientes. Os tratamentos podem ser longos e com efeitos colaterais desagradáveis, mas os impactos começam com o diagnóstico. Por essa razão, especialistas da oncologia e da psicologia são enfáticos em dizer que o enfrentamento não é apenas físico. É ser emocional também. E sem os devidos cuidados e apoio de familiares e amigos, pacientes podem desenvolver quadros de depressão ou ansiedade.
Dados do Observatório de Oncologia apontam que entre 22% e 29% dos pacientes com câncer desenvolvem depressão. A ansiedade é chega acomete cerca de 26% das pessoas com a doença. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima que o Brasil é o país com a maior prevalência de depressão na América Latina. No entanto, as pesquisas dessas instituições mostram que redes de apoio bem articuladas, associadas a terapia e até medicação quando necessário, devolvem a qualidade de vida aos pacientes.
Os principais sintomas de doenças mentais mais comuns para pacientes com câncer são:
- baixa autoestima
- ansiedade e angústia
- desânimo, cansaço físico, falta de motivação e apatia
- sentimentos de medo, insegurança e desesperança
- alterações no sono (muito sono ou dificuldade para dormir)
- isolamento social
- pensamentos suicidas e constantes reflexões sobre a morte
A psicóloga Natália Rêgo, que trabalha em uma clínica oncológica do Pará, reforça que assim como investigar, diagnosticar e tratar um câncer nos estágios iniciais, cuidar da saúde mental do paciente desde o começo também é uma parte importante do tratamento. E ela aproveita a campanha Janeiro Branco para fazer esse alerta
“Não há vergonha em buscar ajuda. Ter um espaço seguro para expressar suas preocupações, medos e emoções pode ajudar a aliviar o peso que carregamos. Terapeutas especializados em câncer estão disponíveis para fornecer suporte, orientação e ferramentas para lidar com os desafios emocionais. O psicólogo pode oferecer ao paciente e sua família um espaço de acolhimento para a dor e as angústias que são inevitáveis com o diagnóstico e o tratamento. É muito importante auxiliar o paciente a pensar e se organizar diante da nova realidade que se apresenta, possibilitando perceber melhor seus recursos e potencialidades para lidar com a doença e uma melhor forma de encarar esse processo”, avalia a psicóloga Natália Rêgo.
Natália reforça que cuidar da saúde mental envolve praticar o autocuidado. “É preciso reservar um tempo para fazer coisas que tragam alegria e paz. Priorizar o descanso, a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos adequados. O autocuidado é um componente crucial na jornada de tratamento contra o câncer”, conclui.
Comerciante paraense relembra como foi a descoberta do câncer e impactos na saúde mental
A comerciante Jéssica Karine, de 34 anos, descobriu o câncer de colo de útero no final de 2022. Ela sentia dores pélvicas e tinha sangramentos durante relações sexuais. Exames apontaram uma lesão pequena, que foi tratada. Os preventivos também não identificaram nada alarmante. “Mesmo assim, sabia que havia algo errado, por conhecer meu corpo”, conta. Os sintomas pioraram, com dor lombar, vômitos e novos sangramentos. Outros exames comprovaram o câncer. Foi o gatilho para os primeiros sinais de transtorno emocional.
”Em 2015, tive depressão pós-parto e foi muito difícil. Passei mais de um ano abalada, não conseguia fazer nada e demorei a pedir ajuda, buscar tratamento. Com o câncer, senti que não podia passar por aquilo de novo, sozinha. Ter o suporte psicológico e uma rede de apoio com família e amigos durante o tratamento oncológico foi muito importante. Tive muitos momentos de choro e desespero, mas também me orgulho por ter conseguido controlar meu emocional e superar o sofrimento”, relata a comerciante.
Durante o ano de 2023, ela fez quimioterapia, radioterapia e braquiterapria. Só interrompeu o tratamento por um período para fazer uma cirurgia e apendicite. Jéssica concluiu o tratamento em dezembro e deve continuar com o acompanhamento. Ela também pretende retomar a terapia com psicólogo. “O pós-operatório foi difícil e me abalou ainda mais, pensei em desistir, mas, graças a Deus, superei. O apoio profissional é fundamental para a saúde mental voltar a ser 100%”, conclui.
(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional, com informações do Centro de Tratamento Oncológico)
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