Sem surpreender a ninguém, o Banco Central, sob a gestão de Roberto Campos Neto, manteve a taxa básica de juros (Selic) do Brasil em 10,5%. E assim, foi interrompida a sequência de 7 recuos dos juros, um dos mais altos do mundo. A decisão foi justificada por um “cenário global incerto”, “alta do dólar”, “desinflação lenta” e expectativas “desancoradas” do mercado financeiro.
Na teoria, a decisão tem o papel de ser um instrumento de controle da inflação. Na prática, dificulta e encarece o acesso ao crédito (empréstimo simples, financiamentos, cartões…) e aumenta a rentabilidade de bancos e investidores rentistas. O Banco Central é uma instituição independente do Governo Federal e as decisões tomadas não cabem ao presidente Lula (PT) ou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo.
A decisão foi tomada na noite desta quarta-feira (19), após reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A decisão, diferente da reunião anterior, foi unânime. A última menor taxa básica foi registrada em fevereiro de 2022, quando esteve em 9,75%. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes seguidas e manteve em 13,75% por um bom tempo. Antes desse ciclo, a taxa era de 2%, menor patamar desde 1986.
“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, informou o Copom, por nota ,destacando que o cenário atual “…demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”.
Após o Banco Central ter se tornado “independente”, Campos Neto assumiu a presidência da instituição indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Campos Neto tem um posicionamento político que é contrário ao atual governo e teve a postura político-ideológica criticada por Lula. Em constantes reuniões com políticos e empresários ligados à extrema-direita, é considerado por alguns analistas e pelo governo como alguém atendendo aos interesses do mercado financeiro.
A inflação oficial é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, esse índice subiu para 0,46%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos puxaram o indicador após as enchentes no Rio Grande do Sul. Com o resultado, o indicador acumula alta de 3,93% em 12 meses. A meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC — que está sob investigação do Ministério Público do Tribunal de Contas da União —, a inflação oficial deverá fechar o ano em 3,96%, abaixo portanto do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 3,8%.
(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional, com informações da Agência Brasil)
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