quinta-feira, 9 de maio de 2024

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Conheça a história de São Félix do Xingu, maior município do Sul do Pará, que completou 62 anos neste dia 10 de abril

Ao completar 62 anos de instalação e emancipação, São Félix do Xingu, maior município da região Sul do Pará e dono do maior rebanho bovino do país, tem uma história que se inicia com a fé e trabalho duro do povo do campo, que se reinventou geração após geração e hoje está entre os 20 municípios de mais desenvolvimento do estado
A cidade de São Félix do Xingu, terra do maior rebanho bovino municipal do Brasil, maior cidade do Sul do Pará e um dos maiores municípios do Brasil, com mais de 60 anos de história (Foto: Marcelo Seabra / Agência Pará)

São Félix do Xingu, maior município da região Sul do Pará, completou 62 anos nesta quarta-feira, dia 10 de abril. A data marca a instalação oficial e emancipação de uma terra altamente produtiva para a agropecuária, que atualmente representa 7% do território do estado. Desde os primórdios, a cidade tem uma história ligada a um povo trabalhador, com o encontro de povos e culturas que passaram por diferentes momentos do desenvolvimento econômico do país e do próprio estado.

Na literatura oficial, há poucas obras dedicadas a contar a história de São Félix do Xingu. Apesar do nome baseado num humilde santo católico da ordem dos Capuchinhos e dono de uma fé incontestável, grande parte da população atual de mais de 132 mil habitantes se identifica como evangélica. Um desses habitantes, o agropecuarista Isaac Fernandes, é um estudioso dedicado a registrar essa história. E vive numa terra que antes foi um seringal, uma das fundações da economia local.

Issac conta, com base em documentos, livros e a história oral, que São Félix do Xingu teve a formação de fato iniciada durante a primeira guerra mundial. Havia pequenas comunidades ribeirinhas que viviam da exploração de castanhas e seringais em áreas dos rios Xingu e Fresco. Nessa época, o coronel Tancredo Martins — não há certeza se o título era militar —, dono de um tipo de embarcação que antes era conhecida como “Regatão”, subia os rios com mantimentos e voltava carregado dessas castanhas e borracha.

Seu Isaac, agropecuarista que se dedica a estudar a história de São Félix do Xingu desde os primórdios (Foto: Acervo Pessoal Cedido ao Fato Regional)

Religiosidade e os ciclos da borracha na Amazônia

Com o aumento da demanda por borracha, observa Issac, vários povos nordestinos começaram a migrar em busca de trabalho. Rapidamente um entreposto comercial se instalou visando esse aumento de demanda e ocupação e uma comunidade começou a ser formar. Com a chegada de Dom Eurico, em 1920, foi fundada a igreja da cidade. Por terra, à época, havia acessos apenas para Conceição do Araguaia. Cada vez mais migrantes nordestinos chegavam, os que futuramente foram conhecidos como “soldados da borracha”.

“O primeiro grande ciclo da borracha cessou ao passo que a guerra acabou. Todas as comunidades que se formaram em busca da riqueza da borracha agora precisavam encontrar outro modo de sobreviver e uma das atividades encontradas foi a caça e uma subatividade conhecida como ‘marisco de gato’, que era a venda das peles de felinos, como gatos maracajás e onças. E assim essa população viveu, junto com a cultura extrativista de castanhas, até a segunda guerra mundial e nova demanda por borracha”, comenta Isaac.

Em 1938, a comunidade passou a se chamar informalmente de São Félix de Gradaús, de forma alusiva à igreja fundada por Dom Eurico (autor de um dos dois livros dedicados a contar a história de São Félix do Xingu). O novo boom econômico da borracha, lembra Issac, durou até o fim da segunda guerra. Aquela comunidade já estava se desenvolvendo e já tinha um comércio com Altamira. Após a derrocada definitiva da borracha, a cultura das castanhas e então do jaborandi se tornaram a principal atividade econômica.

A histórica Igreja Matriz de São Félix do Xingu, fundada por Dom Eurico (Foto: Fato Regional)

Criação do município e emancipação política

Isaac explica que, politicamente, São Félix do Xingu foi criado pela primeira vez em 1955, no governo do general Alexandre Zacarias de Assunção, eleito por uma coligação de partidos (UDN-PSP-PL-PSB-PR), que numa acirrada campanha eleitoral venceu o Majoritário PSD. Inicialmente, a cidade adotou o nome que já vinha sendo usado, de São Félix de Gradaús. Isso se deve porque a divisão leste do território, nos limites de Marabá e Conceição do Araguaia, situava-se na cordilheira de Gradaús.

Em 1961, no governo Aurélio Correia do Carmo e Newton Miranda, o município adotou um nome mais próximo às próprias origens e se tornou São Félix do Xingu, devido ao rio Xingu. A nova cidade foi criada no dia 29 de dezembro de 1961, através da Lei Estadual nº 2, 460, publicada no diário oficial do Estado, nº19, 759 do dia 30 de dezembro de 1961. A instalação oficial, no entanto, só ocorreu no dia 10 de abril de 1962.

A instalação definitiva foi executada pelo então vice-governador Newton Miranda, que esteve numa grande comitiva composta de deputados estaduais, secretários de estado do juiz de direito de Gurupá, Dr. Miguel Antunes Carneiro, que se encontrava àquela época respondendo pela Comarca de Altamira. As primeiras eleições para prefeito ocorreram no dia 7 de outubro de 1962.

A APA Triunfo do Xingu resguarda algumas das paisagens mais belas das riquezas naturais de São Félix do Xingu e uma das várias áreas protegidas do município (Foto: Ascom Prefeitura de SFX / Imagem Ilustrativa)

Da castanha à madeira, passando pelo garimpo e então agropecuária

Entre 1970 e 1980, registra Isaac, um ciclo madeireiro começou com a exploração de mogno, que tinha empresas de processamento em Xinguara, Rio Maria e Redenção. Essa foi a principal atividade econômica que ficou dos anos 1990 a 2000. Uma das atividades que cresceram foi o garimpo, que se expandiu com a chegada de mineradoras como Mitral que deu início ao projeto “Mineração Taboca”, dedicada à exploração de cassiterita e estanho. A então vila São Raimundo passou a ser o atual distrito da Taboca.

Com o fim dessa exploração mineral, observa Isaac, havia muita mão de obra que já havia migrado de atividades econômicas várias vezes. Foi quando o potencial agropecuário foi percebido. A terra era ampla, tinha boas chuvas e não era boa apenas para plantações, mas era boa para pastagens e criação de gado. Fazendeiros de outras áreas do Brasil começaram a chegar à cidade pelos preços atrativos das terras e as fazendas começaram a ser abertas.

Os produtores de cacau que aderiram à Agroecologia em São Félix do Xingu dizem que é possível perceber retorno e as técnicas se mostram promissoras (Foto: Diego Formiga / Imaflora)

O historiador Diego Pereira, professor da Universidade do Estado do Pará e doutor pela Universidade de Barcelona, observa que atualmente São Félix do Xingu é uma potência da pecuária, reunindo o maior rebanho bovino do Brasil e se encontra entre os 20 municípios de maior desenvolvimento do Pará. Composto por 29 vilas e 8 distritos, um dos desafios atuais e o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e integração para reduzir a baixa densidade demográfica, atualmente de 1,9 habitante por km².

“Grande parte desse território, mais de 70%, é composto de áreas protegidas sendo 51,9% de terras indígenas, 20,6% em unidades de conservação e 3,7% são considerados assentamentos federais. São cerca de 23 mil km² ocupados e isso representa três vezes Região Metropolitana de São Paulo. Aproximadamente 90% das áreas economicamente utilizadas são voltadas à atividade agropecuária”, pontua o professor Diego Pereira.

Após viver uma crise de desmatamento entre os anos de 2001 e 2008 com a expansão da atividade agropecuária, controlada entre 2011 e 2015 e com novos picos em 2019, São Félix do Xingu, afirma o historiador Diego Pereira, vem se recuperando e mostrando vocação de preservação. A cidade vive um experimento da bioeconomia com o investimento na cacauicultura orgânica, apicultura e outras atividades que estão reflorestando a rica biodiversidade xinguense e gerando emprego e renda. E assim segue a história de uma cidade fundada por um povo trabalhador.

(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional)


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