segunda-feira, 21 de outubro de 2024

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Da mineração à preservação do meio ambiente: caminhos para um legado socioambiental positivo das mineradoras no Pará

Pesquisadores e gestores públicos vêm tentando projetar o futuro dos municípios onde a mineração é a espinha dorsal da economia e do desenvolvimento. O legado das mineradoras também se tornou uma questão central para executivos das empresas desse setor. Algumas apostam no investimento direto nas cidades, o que ajudou fortemente no desenvolvimento urbano e social das regiões Sul e Sudeste do Pará por, pelo menos, os últimos 35 a 40 anos. Outras miram na preservação do meio ambiente.
A meta de reflorestar e preservar começa com a preparação de mudas de alta qualidade, frutos de pesquisa e cuidado, produzidos por iniciativas da Vale e parceiros do ecossistema de bioeconomia e preservação (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Pesquisadores e gestores públicos vêm tentando projetar o futuro dos municípios onde a mineração é a espinha dorsal da economia e do desenvolvimento. O legado das mineradoras também se tornou uma questão central para executivos das empresas desse setor. Algumas apostam no investimento direto nas cidades, o que ajudou fortemente no desenvolvimento urbano e social das regiões Sul e Sudeste do Pará por, pelo menos, os últimos 35 a 40 anos. Outras miram na preservação do meio ambiente.

Diante de um mercado que aumenta, em progressão geométrica, as exigências por produtos e serviços sustentáveis, a compensação ambiental vem deixando de ser uma mera formalidade de licenciamentos para se tornar uma iniciativa com metas cada vez mais ambiciosas. As reservas do planeta podem durar por um período que vai de variável a inestimável. Logo, negócios minerários que pretendem vislumbrar um futuro mais promissor, pautados pela sigla do momento — a ESG, ou Ambiental, Social e Governança, em português —, precisam começar o quanto antes.

Assista ao minidoc do Fato Regional sobre o legado da mineração e bioeconomia:

Na região Sudeste do Pará, Parauapebas e Canaã dos Carajás — municípios amazônicos cujo relevo e paisagens inspirariam uma detalhada descrição, como a introdução de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos — são palcos de algumas dessas propostas de como mineradoras podem deixar um legado positivo não apenas para os limites das localidades onde atuam, mas também para o futuro do planeta e das próprias companhias.

A Vale, através do Fundo Vale, apontou um caminho e mostra que o esforço pode ser imenso, levar tempo, dinheiro e precisar de muitas mentes e mão de obra. Mas o resultado costuma ser visível e perceptível até no microclima de uma cidade.

Somente em 2023, a mineradora, através do Fundo Vale, aponta ter feito um investimento de R$ 74 milhões para iniciativas socioambientais. Isso representa 30% a mais do que o valor investido em 2022. Nos últimos 15 anos, o fundo já investiu R$ 360 milhões na Amazônia e em outros biomas.

Sudeste do Pará: início da meta de 500 mil hectares de floresta protegidos e recuperados até 2030

Em 2021, a Vale anunciou uma meta de preservar 400 mil hectares de florestas e recuperar mais 100 mil hectares até 2030. Para quem não consegue mensurar o que isso quer dizer, seria um pouco mais de 500 mil campos de futebol pelas medidas oficiais da Fifa. É muito maior que vários municípios inteiros da região Sul do Pará, como Redenção, Rio Maria, Xinguara, Floresta do Araguaia, Bannach, Pau D’Arco e Tucumã, por exemplo, que possuem menos de 5 mil km² de território. Alguns podem achar pouco, mas trata-se da iniciativa de uma única companhia.

Na prática, pelo mundo, a Vale declara preservar 1 milhão de hectares de florestas, sendo 800 mil na Amazônia. Junto com a Meta Florestal — informalmente conhecida como meta dos 500 mil hectares —, há outra meta até 2050: que a companhia se torne carbono neutra, ou seja, que pare de gerar emissões de gases do efeito estufa. Para empresários que ainda não compreenderam o momento de transformação da responsabilidade e investimentos futuros, pode haver a seguinte questão: e isso dá dinheiro? A resposta é sim. Principalmente porque alguns mercados não abrem mais as portas para negócios despreocupados com o futuro do planeta.

Mudas que estão sendo pesquisadas e cuidadas numa das principais iniciativas da Vale, através do Fundo Vale, para preservar e reflorestar 500 mil hectares (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Para uma parcela da população, que não está ligada às discussões sobre clima e natureza, esses números talvez não façam sentido e as metas de uma empresa podem não parecer tangíveis ou palpáveis. Pois bem, há como traduzir. Você sentiu que a temperatura na sua cidade aumentou e parece estar ficando cada vez mais quente? Tem acompanhado notícias sobre fenômenos climáticos, como ondas de calor, tempestades, ventanias e seca extrema? Se comoveu com a tragédia ocorrida no início de 2024, no Rio Grande do Sul? Pois bem, esses números são sobre como frear essas mudanças climáticas e impedir que as gerações futuras vivam num planeta cada vez mais insustentável para a vida e para um mínimo de bem-estar.

Quem chega a Parauapebas, principalmente nas áreas mais elevadas da serra dos Carajás, como o aeroporto da cidade (CKS), pode perceber que mesmo no verão amazônico que faz Belém, a capital paraense e sede da COP 30 torrar, a temperatura é mais amena e o ar, ainda que num período de baixa umidade, parece mais limpo e agradável. É nessa região onde a meta florestal da Vale nasceu, antes mesmo de ser considerada uma meta formal, começando pela proteção à Floresta Nacional de Carajás, uma das 6 unidades de conservação que compõem o Mosaico de Carajás, que somam 800 mil hectares de área.

E que é o Mosaico de Carajás?

Trata-se da conjunção de 6 unidades de conservação no Pará, que correspondem a 800 mil hectares de terra. As UCs se unem à Terras Indígena Xikrin do Cateté e soma 1,2 milhão de hectares de área preservada e um estoque estimado de carbono de 601 milhão de toneladas de CO2 (entre biomassa e solo) e 22.537 nascentes de água protegidas.

  • Floresta Nacional de Carajás
  • Reserva Biológica do Tapirapé
  • Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri
  • Floresta Nacional do Itacaiunas
  • Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado
  • Parque Nacional dos Campos Ferruginosos
A grandeza da Floresta Nacional do Carajás, em Parauapebas (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale, lembra algo que, por vezes, há quem esqueça: o meio ambiente não é apenas árvores e bichos — sendo alguns deles fundamentais para a manutenção da natureza, entre eles as abelhas. É também das pessoas, que necessitam de água, alimentos, insumos, conforto térmico, entre outras importantes funções dos diferentes biomas existentes.

“A gente minera dentro de uma área que é uma floresta nacional. Muitas pessoas não relacionam a floresta com a mineração e à Vale, mas é onde estamos. É a nossa casa e de onde tiramos a nossa produção. Manter a floresta em pé tem um valor por tudo o que ela representa. Estamos falando de biodiversidade, de produção de água, de regulação de clima, de produção de alimentos. É uma série de benefícios que para nós é importante conservar”, justifica Patrícia.

Água é um bem natural que é importantíssimo para diversos setores econômicos, desde a alimentação, agropecuária e também a própria mineração. Patrícia Daros observa que nos 800 mil hectares de área do Mosaico de Carajás, há 22.537 mil nascentes, sendo 11.466 somente na Flona Carajás. Há quem pense que a água é um recurso vasto e talvez inesgotável, ao lembrar de todos os rios, mares, oceanos, lagos e nascentes.

Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale, observa que as respostas sobre as contribuições da mineração para o futuro do Pará e da Amazônia demandam investimento, união, estratégia e comprometimento coletivo (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Desde 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) já alertava que cerca de 40% da população mundial sofre algum nível de insegurança hídrica, que pode ir de leve a severo. A projeção para 2050 é de que, se nada for feito, as mudanças climáticas e perda de reservas possam levar 66,6% da população a sofrer com a falta de acesso à água.

“Água é fundamental para o ser humano e para os animais. É fundamental para o nosso negócio. É fundamental para outros negócios em torno da mineração e para as pessoas que estão nas áreas onde atuamos. É importante para a preservação de diversas espécies”, diz Patrícia. E para não esquecer: água, desde 2010, foi reconhecida como um direito humano pela ONU.

Para a diretora, não é mais possível falar sobre clima sem falar em biodiversidade e do “meio ambiente para as pessoas”. Ela observa que a COP 30, em Belém, apesar de pautada nas mudanças climáticas, vem sendo chamada de “COP da Floresta e da Amazônia”. Logo, ela reforça a importância de que todos os povos amazônicos, principalmente do Pará, estado sede, se sintam protagonistas e se apropriem das discussões que vão ditar o futuro do bioma, da região, do planeta e do ambiente de negócios pautado em Bioeconomia, preservação, responsabilidade socioambiental e crescimento.

Investimentos no ‘meio ambiente’ de negócios e Bioeconomia — conceito no qual o Pará pode ser expoente global

Considerado um dos principais segmentos de negócios do futuro, a Bioeconomia pode fazer do Pará um expoente global e uma referência. O país, além de ter os biomas que concentram a maior biodiversidade do planeta, elaborou um plano nacional de fomento ao setor. E o Pará tem um plano estadual. Essas ideias consideradas referenciais mundo afora, não foram pensadas por mero acaso.

Para Patrícia Daros, durante muito tempo, a Bioeconomia era um assunto distante. Quem interagia com esse tema, via algo muito restrito a algumas atividades econômicas, principalmente artesanato e biojoias, por exemplo. Mas ao passo que o Governo Federal e — numa realidade mais local — o Governo do Pará começaram a apontar que trata-se de um segmento econômico do futuro, a percepção começou a mudar. Atualmente, já é visto como um grande negócio. O estado tem muito a mostrar como e por que é um ambiente favorável e expoente quando a COP 30 chegar, em 2025.

O governador Helder Barbalho, presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, defende o potencial produtivo da bioeconomia paraense em vários eventos pelo mundo, com a capacidade de gerar US$ 120 bilhões por ano (Foto: Alex Ribeiro / Agência Pará)

Estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que, em 2019, a Bioeconomia representou 19,6% do Produto Interno Bruto — PIB, ou a soma de tudo o que o se produz no país —, chegando a R$ 1,44 trilhão. Em 2023, num período de 4 anos, saltou para R$ 2,7 trilhões, ou 25,3% do PIB nacional.

“No Pará, o Plano Estadual de Bioeconomia estima um potencial de geração de receitas com produtos desse segmento de US$ 30 bilhões até o ano de 2040, além de outros US$ 120 bilhões anuais com a exportação de 43 bioprodutos florestais”, diz o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal.

“É a economia da floresta, um segmento formal e que podemos ver como algo constituído em três pilares: tecnológico, conhecimento de espécies que estão na natureza e no mercado — citando cacau, açaí, jaborandi, mandioca, por exemplo — e a repartição justa de benefícios. Hoje temos uma Política Nacional de Bioeconomia e uma política estadual. Estamos atuando junto aos governos para buscar espaços de mapeamento e fomento às iniciativas de soluções baseadas na floresta viva e na natureza”, completa Patrícia.

Alguns estudos de economistas brasileiros e internacionais apontam que a Amazônia gera um valor anual de pelo menos US$ 317 bilhões, o que é muito superior ao potencial de rendimentos oriundos da exploração da floresta para extração de madeira, pecuária, monoculturas ou mineração. Mesmo assim, a Vale, uma mineradora, assumiu esse compromisso. “Como a gente enfrenta essas crises climáticas, acreditamos que negócios baseados na natureza podem ajudar a fazer essa transição dos modelos econômicos e apoiar causas como preservação”, acrescenta a diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale.

O cacau é um dos principais aliados da bioeconomia por representar floresta em pé, rendimento aos produtores e resultar em diversos subprodutos de alto valor agregado (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Como uma companhia com uma rígida agenda ambiental e entusiasta do potencial da Bioeconomia, a Vale garante já ter apoiado 324 negócios, envolvendo mais de 18 mil produtores de impacto socioambiental positivo. O Fundo Vale suporta a Amaz, a primeira aceleradora de negócios baseados no setor. A mineradora já fez chamadas de negócios, em 2023, para startups de bionegócios da Amazônia receberem investimentos de até R$ 600 mil. Entre algumas citadas por Patrícia está a Maná, em Altamira, que produz o chamado “Whey Protein da Floresta” e já está vendendo para fora do Brasil, com ampla aceitação. Mas um dos negócios que está bem alinhado à meta de reflorestamento é a Belterra.

Quando a Vale assumiu a meta florestal ou meta dos 500 mil hectares de floresta, a fazenda São Francisco, na zona rural que fica no limite entre Parauapebas e Canaã dos Carajás, foi o “marco zero”, justamente numa propriedade rural degradada ao ponto de quase ser zero potencial produtivo.

Num caminho que mistura paisagens serranas, pastos com gado circulando e cursos de água da região Sudeste do Pará, a startup surgiu com uma proposta de fazer parcerias com pequenos e médios produtores rurais para a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs) de larga escala. Desde a fundação, em 2020, a Belterra já acumulou alguns feitos e se prepara para ter o maior viveiro de produção de mudas de cacau do Brasil. Uma aposta que começou com uma porteira diante de uma imponente castanheira, um sonho, coragem e investimento.

As mudas que a Belterra produz no viveiro central, no sudeste do Pará, que poderá se tornar o maior produtor de mudas de cacau do Brasil e um dos maiores do continente (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Na formatação atual da fazenda São Francisco, a Belterra tem trabalhado com cacau, banana e mandioca, além de espécies florestais, como mogno. Na prática, um SAF cria ciclos de produção que fazem com que as espécies criem uma sinergia e garantam colheitas e rendimentos praticamente o ano todo, sem esperar por uma safra específica. A banana tem colheitas mais rápidas, enquanto a mandioca está num meio termo e o cacau leva um pouco mais de tempo. Essa combinação já conseguiu superar o solo degradado da fazenda.

Luiz Eduardo Quintella, diretor de Novos Negócios da Belterra, explica que a empresa se especializou na implementação de SAFs. Ele explica que trata-se da conjugação de uma cultura florestal com a produção agrícola, com forte apelo ao agronegócio devido aos retornos econômicos. Atualmente, a empresa já tem contratados 4 mil hectares e já se prepara para contratar mais 5 mil. E é visando a demanda que cada hectare tem por mudas de árvores para a implantação de um sistema agroflorestal que os viveiros foram construídos. Há 3 no Pará, 2 na Bahia e 1 em Rondônia. Ele é enfático que o investimento traz retornos impressionantes e justamente mirando na Bioeconomia, com operações também no Mato Grosso, em Minas Gerais e no Piauí.

Luiz Eduardo Quintella, diretor de Novos Negócios da Belterra, reforça que os SAFs podem ser o início de uma revolução sustentável do agro rumo ao engajamento definitivo do setor com a pauta ambiental (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

“O sistema age como a própria floresta, com alta diversidade de espécies, trazendo algo diferente para as propriedades, diferente de uma monocultura e abrindo chance para novas espécies serem implantadas e cultivadas. Os SAFs trazem nutrientes, descompactação, matéria orgânica, cobertura — solo descoberto é desperdício e vetor eficiente para captura de carbono — às áreas de pastagens que hoje, no Brasil, costumam ser muito pouco tecnificadas e rentáveis para os produtores”, diz Quintella.

Dados citados pelo diretor de Novos Negócios da Belterra apontam que o rendimento líquido para uma pastagem simples ou área de monocultura costuma ser R$ 100 a R$ 200 por hectare. Pensando somente em cacau, uma das commodities agrícolas mais valorizadas dos últimos anos e cuja produção global ainda não atende a toda a demanda, é possível encontrar rentabilidade de R$ 30 mil a R$ 40 mil por hectare. Cada hectare necessita, em média, de 1 mil mudas de cacau. E para a implementação de um SAF, as mudas precisam ser de alta qualidade.

O trabalho da Belterra investe num mercado do qual o Pará se orgulha de ser projeto de um expoente global, começando com pequenos e médios produtores e até mesmo grandes produtores, na implantação da SAFs de grande escala (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Diante da demanda e dos resultados, o cacau tem sido o foco dos viveiros da Belterra, ainda que o dendê venha ganhando espaço progressivamente. Há também mudas de florestais diversas, além de açaí, ingá e outras frutas. O viveiro central, na fazenda São Francisco, tem capacidade de 2 milhões de mudas e está em expansão para um próximo módulo, com capacidade para 10 milhões de mudas, fazendo do Pará o principal produtor de mudas de cacau de alta qualidade do Brasil, que é o 7º país do ranking nacional de produção do fruto. Entre os estados, o Pará é o maior produtor.

Patricia Daros destaca que para o desenvolvimento da Bioeconomia, uma rede de parceiros e uma atuação diversa são fundamentais. “Precisamos trabalhar em várias frentes que vão desde o estímulo à ciência e tecnologia, inovação e empreendedorismo, oferta de capital, desenvolvimento de mercados, regulação, incentivos e investimentos, como o que temos feito com as startups agroflorestais e silvipastoris. Só vamos conseguir avançar se colocarmos todos esses elementos a serviço do ecossistema de bioeconomia”, conclui.

Evoluções tecnológicas e projetos como o Bioparque reforçam: o legado da mineração pode ser a preservação e a responsabilidade socioambiental

Em Canaã dos Carajás, a Vale implantou um projeto sustentável para reduzir o consumo de água, emissão de gases do efeito estufa e redução da necessidade de supressão vegetal e uso de barragens: a Unidade Carajás Serra Sul, também conhecida como S11D. Com operação iniciada em 2016, o modelo fez da produção e beneficiamento do minério de ferro uma atividade sustentável e ambientalmente correta, logo num setor que carrega o peso de ser considerado uma das atividades econômicas que mais impactam o meio ambiente. Tudo é operado com escavadeiras elétricas, britadores móveis e correias e esteiras transportadoras.

A usina conhecida como S11D, elaborada para ser um empreendimento minerário diferenciado e que traz conceitos de uma mineração sustentável, sem a necessidade de supressão vegetal ou utilização de mais água (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

E a alguns quilômetros de distância, em Parauapebas, outro legado é atrelado à preservação ambiental, mas menos diretamente ligado ao negócio da mineração, que é o Bioparque Vale Amazônia, inaugurado em 1985 como um projeto de preservação de espécies vegetais e animais da região. Após 39 anos de atuação, deixou de ser um parque de compensação ambiental e se tornou um refúgio de vida silvestre e um dos elementos do ecoturismo da região.

Atualmente, o parque conta com 30 hectares de área, 29 recintos e 360 espécies animais, além de herbário com mais de 16 mil espécies da flora amazônica. Cerca de 70% da mata local é originária e preservada. Com uma média de visitação de 150 mil pessoas por ano, o Bioparque foi indexado no The New York Botanical Garden, faz parte da Rede Brasileira de Herbários e é um hotspot de pesquisa científica. Há no espaço alguns registros históricos, como a árvore plantada pela princesa Diana de Gales e pelo então príncipe Charles III (atual rei do Reino Unido), que deu origem à peculiar peça que está exposta no Bioparque: o Ouriço Real (com direito a coroa e uma almofadinha). Outras figuras históricas passaram por lá e tiveram a visita registrada com o plantio de uma árvore.

“Essa iniciativa nasceu para proteger animais que ocorrem na região Carajás e que são espécies da Amazônia. Com o tempo, nos tornamos referência na reprodução de animais ameaçados de extinção e encaminhamento para outras instituições especializadas. Temos aqui animais oriundos de resgate de cativeiros, tráfico e acidentados. Contamos aqui com espécies que não costumam ser vistas em nenhum outro lugar, entre aves, plantas e felinos diversos”, explica Nereston de Camargo, veterinário do Bioparque.

O Bioparque em Parauapebas é um local onde há preservação de uma vasta biodiversidade nativa da Amazônia, com plantas e animais diversos (Foto: Victor Furtado / Fato Regional)

Empresas que atuam com a mineração no Pará e em outros estados da Amazônia são várias. Cada uma busca a compensação ambiental pelas atividades que, não há como amenizar, têm impacto direto no meio ambiente. No entanto, a escolha de fazer da compensação socioambiental um legado depende de decisões executivas por vezes corajosas. Minérios são recursos finitos. Em algum momento, as reservas vão acabar. A Vale é apenas uma entre várias empresas, mas uma se importa em apresentar à sociedade, com orgulho, o que investe para uma economia sustentável e para o futuro do planeta mais do que ativos tangíveis e intangíveis e valores de mercado.

Qual o legado da mineração para o Pará e para a Amazônia? Difícil dar uma só resposta e por isso pesquisadores e gestores públicos vêm se debruçando sobre o tema. A Vale, como uma das maiores empresas do setor no Brasil e no mundo, referência para outros negócios, já escolheu que resposta quer dar, pondo cada “pé de planta” na terra como um “pé no futuro”.

(Reportagem especial de Victor Furtado e Luã Couto, da Redação do Fato Regional)


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