domingo, 5 de maio de 2024

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Morre o economista e ex-ministro do Planejamento Reis Velloso, aos 87 anos

Responsável pelos planos de desenvolvimento do governo militar, criou um fórum de debates sobre o futuro do país.

O economista e ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso morreu de causas naturais, aos 87 anos de idade, na manhã desta terça-feira na casa onde mora, no Rio, informaram familiares. Ao ser homenageado pelos seus 50 anos de idade, em 1981, com uma festa para mais de mil convidados, não exagerou ao dizer que, apesar de “cinquentão”, ainda se sentia jovem, com muitas ideias e planos. Personagem singular na cena política brasileira sem nunca ter concorrido a um cargo público, a despeito da pressão de lideranças, àquela época já havia sido ministro do Planejamento por dez anos, fundado e presidido o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (IPEA). Ainda estava por criar o Fórum Nacional de Altos Estudos.

Há três décadas, o evento reúne economistas, governantes e empresários, anualmente, para discutir temas que giram em torno do que foi a sua maior preocupação nacional: o desenvolvimento econômico. Só deixou a condução dos debates em 2017, quando, com a saúde debilitada, se afastou da vida pública. Passou o bastão para um dos seus irmãos, o também economista Raul Velloso.

Visto como um político liberal e, em relação à visão econômica como um desenvolvimentista, transitou em governos de seis presidentes distintos, entre 1961 e 1979. Mesmo tendo sido ministro em dois governos do período da ditadura militar – dos generais Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, de 1969 a 1979 -, dificilmente sua imagem é associada ao clima de medo, falta de liberdade, torturas e mortes que marcaram os duros anos inaugurados em 1964. Pensar em Reis Velloso é lembrar do planejador comprometido, sensível ao papel da ciência, da tecnologia e a da produção acadêmica para promover o desenvolvimento do país.

Em 1967 ajudou a criar a Fundação Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep). De 1968 a 1969, durante o governo do Marechal Artur da Costa e Silva, integrou o Conselho Federal de Educação (CFE) e o Conselho Na­cional de Pesquisas (CNPq).Mais tarde, já durante o regime democrático, e dedicado apenas ao Fórum, disse que conseguiu manter o planejamento e traçar estratégias de desenvolvimento mesmo durante o período mais crítico do regime militar, no começo dos anos 1970, porque ambos os governos começaram com promessa de redemocratização e que a área econômica tinha um “bom” grau de autonomia.


Sua gestão como ministro do Planejamento foi marcada por dois momentos distintos: o apogeu do chamado “Milagre Brasileiro” e a “Crise do petróleo de 1973”.Em 1987, em seu livro “Último Trem para Paris”, fez uma autocrítica no capítulo “A insustentável leveza do PND”, no qual comenta o polêmico Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) do governo Geisel, acusado por alguns de ter levado o país a pisar no acelerador, quando o momento, em face da crise do petróleo, deveria ter sido de freio. O nome do livro, assim como do capítulo citado, conjuga o interesse intelectual de Reis Velloso pelos processos históricos de desenvolvimento econômico do Brasil e no mundo com sua paixão pelo cinema. O último trem, no caso, é aquele que, simbolicamente, seria capaz de transportar um país subdesenvolvido, condição do Brasil na época, para o rol das nações ricas, algo que o ex-ministro não viu acontecer. Velloso era defensor fervoroso dos dois governos nos quais foi ministro.

 

 

Fonte: O Globo