quinta-feira, 16 de maio de 2024

FALE COM FATO REGIONAL

Envie Notícias, Fotos e Sugestões

FALE COM FATO REGIONAL

Envie Notícias, Fotos e Sugestões

Mulheres foram as que tiveram a saúde mental mais afetada pelo distanciamento social

Distanciamento social, apesar dos desafios para saúde mental, continua sendo a melhor ferramenta de prevenção. E os índices vêm caindo.
O consumo de informações também foi uma fonte de sofrimento. Muitas pessoas não conseguiram encontrar lado bom. (Foto: Divulgação)

O distanciamento social, necessário para enfrentamento da pandemia de covid-19, afetou mais à saúde mental de mulheres que de homens. Esse foi um dos muitos resultados de uma pesquisa, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Nesse período, de incertezas devido à doença, os pesquisadores observaram um aumento dos sentimentos de ansiedade, preocupação, tristeza e estresse.

Feita entre maio e agosto deste ano, a pesquisa teve a participação de 440 pessoas. Elas responderam a questionários on-line o cotidiano de distanciamento social; sentimentos e emoções que viveram durante os períodos mais graves da pandemia; e sobre como enfrentaram essa situação. Na segunda etapa da pesquisa, 55 participantes responderam a uma entrevista sobre como lidaram com a solidão e o isolamento.

Os pesquisadores descobriram que a maioria das pessoas que se distanciaram de maneira mais intensa, saindo de casa menos de uma vez por semana, apresentavam muitos sintomas de sofrimento psicológico, incluindo ansiedade e depressão. As pessoas que se isolaram de maneira menos intensa, apresentaram menos sintomas.

Pelo estudo, 71,01% das mulheres e 40,71% dos homens que responderam os questionários apresentaram sintomas clinicamente importantes de sofrimento psicológico. Quando analisado o grupo de pessoas que disseram ter saído de casa menos de uma vez por semana, a taxa desses sintomas atinge 76,9%, no grupo feminino, e 58%, no grupo masculino.

Cada pessoa vivencia a solidão de um jeito

A pesquisa também sugeriu que a forma como lidamos com essa solidão pode piorar seu impacto na saúde mental. “Estratégias de enfrentamento são mecanismos conscientes e intencionais que as pessoas usam para lidar com situações de estresse, ameaça ou desafio, quando respostas automáticas não estão disponíveis. Isso ocorre, por exemplo, quando nos vemos em uma situação completamente nova, como uma pandemia”, explica o professor Caio Maximino, líder da pesquisa.

“Uma de nossas hipóteses, que ganhou bastante apoio com nossos resultados, é que, para algumas pessoas, a solidão faz com que elas busquem se afastar mentalmente do estresse da pandemia e de suas consequências psicológicas, o que faz com que a solidão seja pior”, complementa.

Para o professor Normando Queiroz, um dos coordenadores da pesquisa, o significado que os participantes deram ao isolamento é complexo e multifatorial. “Nesse estudo, descobrimos que as pessoas vivenciam o isolamento de maneira bastante complexa, envolvendo tanto experiências de ansiedade e tensão, em que as pessoas ficam ‘remoendo’ os problemas e as angústias, quanto experiências de caráter reflexivo, voltadas para cuidar de si mesmo e dos outros”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Consumo de notícias e interpretação de informações surpreendeu pesquisadores

Mylena Ribeiro, também pesquisadora do grupo, ressalta o alto consumo de informações sobre a pandemia. Mas nem toda fonte de informação muda, de maneira positiva, a percepção de risco. “Descobrimos que pessoas que consultavam informações sobre covid-19 com maior frequência em fontes da Internet — jornais online, redes sociais, e podcasts — apresentavam mais sintomas”, observou.

Para a cientista, esses resultados foram surpreendentes. “Chama atenção a ausência de um efeito da consulta mais frequente a mensageiros eletrônicos, como o WhatsApp. No Brasil, essa ferramenta é uma das principais fontes de desinformação. Achávamos que as pessoas que buscam informação com maior frequência nessa rede iriam apresentar mais sintomas, mas não foi o caso”, comenta Mylena.

O segundo motivo de surpresa com esse resultado tem a ver com estratégias de enfrentamento: “Acreditávamos que muitas pessoas usariam as informações vindas dessas fontes para fazer o que chamamos de ‘reavaliação positiva’, que é tentar ver ‘o lado bom’, reenquadrar um evento como se ele fosse positivo ou menos negativo. Mas não foi isso que observamos. As tentativas de reavaliação positiva resultaram em mais sofrimento psicológico”, pondera Caio Maximino.

Agora, os pesquisadores estão trabalhando junto com profissionais de saúde mental e clínica psicológica para criar uma série de recomendações para gestores de saúde, trabalhadores da saúde mental e psicólogos clínicos, para mitigar esses efeitos negativos. “O sofrimento não pode ser usado para justificar, individual e coletivamente, o fim do isolamento. Saúde mental é fundamental, mas não é acabando com o pouco confinamento que ainda temos que poderemos resolver a questão”, afirma Talita Garcia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Distanciamento social continua sendo importante

Apesar de os dados apontarem esse desafio com a saúde mental, na ausência de vacinas ou medicamentos que sejam efetivos no tratamento da covid-19, a única solução para diminuir a infecção, as mortes, e o impacto sobre o sistema de saúde é o distanciamento social. As taxas de isolamento têm caído bastante, o que pode refletir uma tentativa de escapar desses sentimentos negativos que aparecem no isolamento. Ao mesmo tempo, risco, já que a pandemia não acabou e ainda não há tratamentos, vacinas ou cura.


“Entender quais são os efeitos nessa situação de pandemia e o que influencia esses efeitos pode ser muito importante para propor novas formas de isolamento que não impactem tanto a saúde mental das pessoas, e também explicar porque muitas pessoas estão ‘furando’ a quarentena”, afirma Raíssa Oliveira, uma das pesquisadoras do grupo.

(Da Redação Fato Regional, com informações da Unifesspa)