Em 2023, o Pará produziu 150 mil toneladas de cacau, com um faturamento bruto de R$ 2,4 bilhões. Com isso, o estado ocupa a liderança da produção nacional, sendo responsável por 51,80% da cacauicultura nacional. Entre os municípios de destaque no ranking estadual, Tucumã, na região Sul do Pará — ou Região de Integração do Araguaia —, ocupa a 8ª posição, com 4,4 mil toneladas produzidas. Os dados são do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A expectativa é de que o Pará feche o ano de 2024 mantendo a liderança da produção do cacau no Brasil. As projeções da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) apontam que, neste ano, serão mais de 152 mil toneladas produzidas. Anualmente, as áreas de plantio de cacau aumentam em torno de 8 mil hectares. O estado é autossuficiente na produção de sementes híbridas.
Na primeira reunião deste ano do Conselho Gestor do Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura do Pará (Funcacau), foi apresentado o balanço que mostra a distribuição de 13,4 milhões de sementes híbridas de cacau. As sementes foram produzidas ano passado, com recursos financiados do Fundo e coordenados pela Sedap. Desse total, foram distribuídas 11.548.490 sementes para 5.587 produtores de 69 municípios paraenses, sendo 7 deles da região Sul do Pará, como Tucumã e São Félix do Xingu.
“Da nossa produção, a maior parte, cerca de 95%, vai para as indústrias multinacionais localizadas em Ilhéus (BA). E esses outros 5%, ou são absorvidos pelas indústrias artesanais de chocolate existentes no Pará ou são exportados para outros países, principalmente Japão e Holanda”, explica Ivaldo Santana, coordenador do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau), vinculado à Sedap.
O cacau é uma cultura considerada ecológica, já que permite a composição de sistemas agroflorestais e tem diversas formas de aproveitamento da colheita que mantém a floresta em pé. Os frutos podem se tornar sucos e ir para outras indústrias, como a de cosméticos. O mais conhecido subproduto é o chocolate, feito a partir das amêndoas. É o tipo de cultura que reforça o compromisso do Governo do Pará de potencializar a bioeconomia, segmento com potencial de movimentar US$ 120 bilhões por ano e ter o Pará como expoente global. A Bioeconomia pode gerar emprego e renda, ajudar na atenuação dos efeitos das mudanças climáticas e combater a fome.
Veja os municípios do Sul do Pará que têm produção de cacau e quais estão sendo estimulados com sementes:
*Dados referentes aos registros oficiais do IBGE e Sedap consolidados de 2022
- Água Azul do Norte
Sem produção registrada
Recebeu 9.600 sementes - Bannach
Produziu 7 toneladas
Não recebeu sementes - Conceição do Araguaia
Sem produção registrada
Recebeu 19.200 sementes - Ourilândia do Norte
Produziu 781 toneladas
326.400 sementes recebidas - Redenção
Sem produção registrada
Recebeu 16 mil sementes - São Félix do Xingu
Produziu 3,8 mil toneladas
Recebeu 1.049.600 sementes - Sapucaia
Sem produção registrada
Recebeu 32 mil sementes - Tucumã
Produziu 4,4 mil toneladas
Recebeu 634.140 sementes - Xinguara
Produziu 47 toneladas
Não recebeu novas sementes - Floresta do Araguaia, Pau D’Arco, Rio Maria, Santana do Araguaia e Santa Maria das Barreiras não têm produção registrada e não receberam sementes
Cacau de Tucumã vai para o Espírito Santo e a Bahia; há tratativas de exportação para a Rússia, diz secretário
Laudi Witeck, titular da Secretaria Municipal de Agricultura de Tucumã, destaca que o cacau é um dos orgulhos da produção agropecuária do município e da região Sul do Pará. Sob a gestão do prefeito Dr, Celso Lopes (União Brasil), vários avanços foram conquistados, como um acordo de cooperação técnica com a Ceplac e investimentos na qualificação da mão de obra e suporte à cadeia cacauicultora tucumaense. Além de vender grande parte da produção para a Bahia e para o Espírito Santo, o cacau de Tucumã pode começar a ser exportado para a Rússia.
“Essa é uma das grandes novidades. Estamos em tratativas para ter esse acordo para a exportação do nosso cacau de Tucumã para a Rússia, em meio a uma alta internacional recorde dos preços do cacau. No nosso município, a saca pode passar de R$ 35 para a R$ 40 quando chegar o período da nossa colheita e que vai nos trazer a oportunidade de novos negócios. Dentre nossos principais compradores estão as multinacionais Cargill e Barry Callebaut”, diz Laudi.
Os novos negócios citados pelo secretário municipal de Agricultura de Tucumã devem ter um impacto positivo na economia do município. Atualmente, a produção de cacau local tem 1,3 mil famílias de agricultores cadastrados, gerando vários empregos diretos e indiretos. Há ainda uma cooperativa tradicional, a Coopertuc, que potencializa as negociações com a cacauicultura tucumaense. A sede da Associação dos Cacauicultores da PA-279 é sediada em Tucumã, justamente pela representatividade do município no setor. Há ainda 3 fábricas de chocolates artesanais.
Para reforçar o apoio à cacauicultura, a Secretaria Municipal de Agricultura de Tucumã atua diretamente com a Ceplac e tem a sede nas instalações da comissão. O acordo de cooperação técnica já dura 2 anos e tem como objetivo a distribuição de sementes e cadastro dos produtores. Em nível municipal, a gestão do Dr. Celso criou o Viveiro Municipal, que produz 80 mil mudas para fornecer as essências florestais para o sombreamento do cacau. E em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a prefeitura já promoveu diversos cursos de capacitação e sobre os tratos culturais do cacau.
“Com a novela que está passando atualmente [Renascer], muitas pessoas começaram a conhecer mais o que é o cacau e a cadeia produtiva. Muita gente consome chocolate e não sabe de onde vem o produto base. E é importante observar que o cacau é uma cultura ecologicamente correta, pois pode ser incorporada em sistemas agroflorestais, ajudam a manter o clima ameno e preservam o verde. Na economia, está presente nos cosméticos, alimentos e muitas outras aplicações onde o cacau de Tucumã também está. E por isso seguimos investindo, estimulando e buscando formas de potencializar a nossa produção local”, conclui Laudi Witeck.
Da árvore para a barra: família cacauicultora já exportou chocolates artesanais de Tucumã para os Estados Unidos e a África do Sul
O cacau de Tucumã é matéria-prima de três fábricas de chocolates artesanais da cidade, que estão nos níveis mais altos de qualidade dos melhores chocolates do Pará e do Brasil. Isso levando em conta que o chocolate artesanal brasileiro já é mundialmente conhecido e premiado, incluindo os de produtores paraenses. Em 1994, a decisão do seu Hormindo Ferraz de deixar a Bahia e se mudar para Tucumã foi o início da história da Terra Chocolates Amazônicos (@terrachocolates no Instagram).
Quando a família chegou a Tucumã, o trabalho inicialmente era apenas com gado. Somente em 2006, após o período de ampla expansão do cacau no Pará e de conhecer os potenciais da terra e do clima para um fruto de qualidade, começou o novo segmento da família. No entanto, os primeiros chocolates só começaram a ser produzidos em 2019, a partir de uma decepção e risco encontrados numa caixinha do achocolatado favorito da irmã de Karine Ferraz, Vitória Ferraz, que é quem conta a trajetória da marca tucumaense de chocolates que atualmente emprega diretamente 10 pessoas em toda a cadeia, da lavoura à venda.
“Minha irmã Vitória amava uma conhecida marca de achocolatado. Porém, um dia ela encontrou restos de um inseto dentro e ela nunca mais quis saber, apesar de amar chocolates. Nossa mãe então, Renilda Vieira, pensou que já que a gente tinha uma produção própria de cacau, ela poderia começar a fazer chocolate. Procurou receitas e as primeiras versões ficaram parecendo uma rapadura, mas com saber magnífico. Ele foi aprimorando a receita e chegou a fazer um curso. Mas o povo que ia em casa já tinha conhecido o que ela estava fazendo, gostava e começava a pedir. E nesse ‘eu quero, eu quero’, acabamos dando início ao projeto dos chocolates”, lembra Karine.
O modelo de produção da Terra Chocolates Amazônicos é o “tree-to-bar” (da árvore à barra), que se caracteriza por produtos mais naturais e artesanais. Karine observa que a família está no rigoroso processo para buscar o selo de “Produto Orgânico”. O portfolio da empresa já conta com 12 produtos, incluindo amêndoas caramelizadas, barras de 4 teores diferentes de cacau, licores, nibs (amêndoas em grãos menores e crocantes) e creme de cacau.
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“Temos buscado bastante orientação e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem nos ajudado para buscarmos expansão dos negócios a partir da COP 30 [que será em 2025, em Belém]. Além do Pará, já vendemos para Goiás, Tocantins, Bahia, São Paulo, Brasília e participamos de festivais e eventos. Nas exportações, já vendemos para os Estados Unidos e para a África do Sul”, conta Karine.
Para a sócia da Terra Chocolates Amazônicos, um dos maiores desafios para a expansão da cacauicultura no sul do Pará nem é a qualificação da mão de obra, mas a quantidade de pessoas dispostas a trabalhar com o cacau e produtos artesanais, que dependem de muitas atividades “braçais”. Esse, avalia ela, deve ser um dos principais desafios a serem vencidos para que a produção de cacau em Tucumã e no estado do Pará aumente.
“Na nossa região, a Sul do Pará, somos agraciados com o clima e terra para produzir alguns dos melhores frutos do mundo. Altamira já teve reconhecida a melhor amêndoa de cacau do mundo. Então agora é implementar as tecnologias e técnicas para expandir os sistemas agroflorestais (SAFs) e conciliar a floresta em pé com a produção de cacau. A gente tem como expandir plantios, já que a produção sempre é totalmente absorvida e não sofremos tanto com pragas como a vassoura de bruxa. Neste momento precisamos vencer a barreira da falta de mão de obra para essa rica e ecológica cultura do cacau que junto da pecuária e da mineração, é um dos principais pilares da economia da região”, diz.
(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional. Reportagem exclusiva. Para reproduzir o conteúdo, entre em contato conosco)
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