sábado, 4 de maio de 2024

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6 pessoas são resgatadas após 40 dias de trabalho análogo à escravidão numa fazenda em São Félix de Xingu

'Os heróis chegaram', disse um dos trabalhadores resgatados da fazenda, a 190 km do centro de São Félix do Xingu. Eram cinco homens e uma mulher, todos em condições que os policiais consideraram desumanas. A operação foi uma ação conjunta do 36º Batalhão de Polícia Militar e da Polícia Civil, que flagraram um subtenente da PM trabalhando na fazenda investigada. O proprietário do imóvel rural e principal alvo conseguiu fugir.
Os 6 trabalhadores foram resgatados das condições degradantes de trabalho pelos quais eram remunerados apenas com pequenas porções de alimentos, como relataram aos policiais (Foto: 36º BPM)

Uma operação conjunta do 36º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e da Polícia Civil resgatou seis pessoas que estavam trabalhando em condições análogas à escravidão em São Félix do Xingu, no sul do Pará. Eles estavam na Fazenda JR, que fica a cerca de 190 km de distância da sede do município. Chorando, algumas das vítimas agradeceram a chegada dos policiais. Uma pessoa chegou a dizer, no relato da ocorrência: “Os heróis chegaram”. Um subtenente da reserva da PM atuava na propriedade que pertence a um ex-policial.

Os trabalhadores resgatados agradeceram a presença dos policiais, a quem chamaram de heróis, pelo resgate após 40 dias de trabalho sob ameaças e em condições degradantes (Foto: 36º BPM)

De posse de informações de inteligência e denúncias anônimas, a ação começou nesta quinta-feira e só foi concluída nesta sexta-feira, 1º de março. A coordenação foi por parte do comandante do 36º BPM, capitão Júlio; do tenente-coronel Carmona, comandante do Comando de Policiamento Regional XIII; e o delegado Ivan, da PC de São Félix do Xingu. Além de resgatar os trabalhadores, a ação tinha o objetivo de combater supostos crimes ambientais ocorrendo na fazenda.

Os trabalhadores estavam em alojamentos improvisados e sem qualquer conforto, segurança e condição de higiene (Foto: 36º BPM)

O proprietário da fazenda, como informou o 36º BPM, seria um ex-policial militar: José Virgínio dos Santos Filho. Ele não faz mais parte da corporação, como apontam fontes da PM, após ter sido expulso por condutas que não condizem com a Polícia Militar do Pará. Ao chegarem à Vila Clariane, os policiais identificaram o veículo que seria do suspeito, uma caminhonete Amarok de cor branca. O veículo foi abordado e estava sendo conduzido por um homem identificado como Raimundo dos Santos Ferreira, subtenente da reserva da PMPA.

A água que os trabalhadores eram submetidos a beber (Foto: 36º BPM)

No veículo também estava um terceiro homem, identificado como Ronalde Juvino. Durante os questionamentos das equipes policiais, o subtenente da reserva disse que estava prestando um serviço terceirizado para a fazenda, perfurando um poço. Porém, mesmo na presença dos agentes, o outro passageiro da caminhonete entrou em contato com o fazendeiro investigado e informou a ele sobre a operação policial. Por conta disso, os dois foram conduzidos à Delegacia de São Félix do Xingu.

Para chegar até onde os trabalhadores estavam, os policiais precisaram se deslocar por cerca de 8 km por terrenos de difícil acesso (Foto: 36º BPM)

A outra parte da equipe seguiu em direção à fazenda. No entanto, o fazendeiro investigado, como informaram os policiais, conseguiu fugir após receber informações privilegiadas dos outros dois suspeitos. Numa difícil incursão pela área da propriedade rural, os trabalhadores foram localizados numa área verde mais afastada a 8 km da sede da fazenda. Foi quando os trabalhadores ficaram aliviados em ver os policiais e agradeceram a presença deles. Foram encontradas árvores derrubadas e sendo fracionadas. Entre elas, um espécime de Castanheira.

A madeira que estava sendo fracionada e que seria de uma castanheira (Foto: 36º BPM)

No local, os agentes da PC e do 36º BPM encontraram instalações precárias, com barracos improvisados, sem condição de higiene, segurança do trabalho e somente com água suja para beber. Em conversa com os trabalhadores, eles disseram estar há 40 dias na propriedade. Eram cinco homens e uma mulher, que relataram ameaças constantes, proibição de comunicação externa e só eram remunerados com pequenas porções de comida.

O poço que estava sendo perfurado na fazenda (Foto: 36º BPM)

As investigações continuam para localizar o dono da fazenda. Os trabalhadores resgatados prestaram depoimento à Polícia Civil e começaram a receber apoio psicossocial para se restabelecerem e o Ministério Público do Trabalho deve dar seguimento aos processos em relação a eles. A Redação do Fato Regional entrou em contato com a Polícia Militar sobre o caso do subtenente suspeito de participar dos crimes investigados e aguarda retorno.

Quaisquer informações que possam ajudar a localizar o dono da fazenda devem ser encaminhadas ao Disque-Denúncia (181). Se a informação for mais urgente, o ideal é ligar para o 190. A ligação é gratuita e pode ser feita de qualquer telefone. Também é possível mandar fotos, vídeos, áudios e localização para a atendente virtual Iara, pelo WhatsApp (91) 98115-9181. Não é necessário se identificar.

O Fato Regional respeita o princípio da presunção de inocência e sempre abre espaço para a defesa dos mencionados em casos policiais — se os advogados ou envolvidos acharem conveniente quaisquer manifestações —, garantindo amplo direito ao contraditório.

(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional)


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