Na Extensão Apyterewa, em São Félix do Xingu, no sul do Pará, existem três associações que representam os moradores e produtores rurais que estão sendo expulsos pela operação de desintrusão. As entidades apontam haver cerca de 2,5 mil famílias na área e afirmam que é uma injustiça chamar essas pessoas de invasores. Durante audiência da CPI das ONGs no município, nesta quarta-feira (29), cobraram a revisão dos laudos antropológicos sobre a presença do povo Parakanã na terra.
Ozias da Silveira, da Associação Vale São José, diz que a operação de desintrusão fere a honra dos moradores da Apyterewa ao chamá-los de invasores. “Nós não somos invasores de terras! Tenham compaixão desse povo sofrido que é chamado de invasor. Eu cheguei nessa terra em 1998 e não tinha nenhum decreto de terra indígena, que só veio em 2007. E agora, nos meus 67 anos, por interesses escusos de ONGs internacionais eu sou chamado de bandido!”, criticou.
Vicente Paulo, da Associação Cedro, disse que o laudo antropológico usado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para demarcar a Terra Indígena Apyterewa tem falhas graves de história. Aos senadores da CPI das ONGs, ele entregou um relatório de análise do laudo original, um documento de análise histórica e um laudo independente, feito por historiadores e antropólogos reconhecidos e que mostram que o povo indígena Parakanã não é natural da área.
“Temos um antigo parecer favorável da Funai para revisão do laudo antropológico, mas isso não aconteceu. Pedimos que façam valer a nossa voz e estamos acreditando que essa perícia vai sair. Só queremos a verdade. E que fique claro que não queremos tomar a terra dos indígenas ou expulsar eles. Só queremos a Justiça e o reconhecimento do nosso direito à terra”, afirmou Vicente. Ele participou de reuniões com caciques Parakanã para conciliação, mas os encontros não foram validados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o representante da Associação Vale São José, a Amazônia está sendo tomada dos brasileiros devido à presença e atuação de instituições de capital estrangeiro. Ele pediu uma solução conciliatória entre o povo Parakanã e os não indígenas. “Não temos nada contra nossos irmãos indígenas. A Apyterewa é muito grande para apenas umas pequenas aldeias que nem são tradicionais da nossa terra. Dá para todo mundo. O que não dá é que para o filho do indígena viver, o meu tenha que morrer”, comentou Ozias.
(Da Redação do Fato Regional. Reprodução proibida)
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