quinta-feira, 21 de novembro de 2024

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Prevenção ao suicídio deve ir além do Setembro Amarelo, diz psiquiatra da Abrata

A principal campanha de prevenção ao suicídio do ano chega ao fim, mas profissionais de saúde mental recordam que o cuidado deve ser constante e o ano todo, com fortalecimento das redes de apoio
O Setembro Amarelo é uma importante campanha, ressalta a psiquiatra da Abrata, mas demanda muito mais do que um campanha no ano; é preciso cuidado permanente para preservar uma vida (Foto: Divulgação)

O Setembro Amarelo, maior campanha de prevenção ao suicídio no mundo, chega ao fim neste sábado (30). Porém, os cuidados com pessoas que sofrem de alguma doença da mente precisam ser mantidos. É após um mês inteiro de conscientização que as redes de apoio precisam estar prontas e atentas. É o que defende a médica psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), em entrevista ao Fato Regional.

A campanha Setembro Amarelo começou em 2014, com a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Centro de Valorização da Vida (CVV), numa parceria para otimizar as ações de prevenção a suicídios. No dia 10 de setembro é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde então, o tema começou a ser mais debatido. E durante o pico da pandemia de covid-19., foi quando planeta passou a falar muito mais sobre saúde mental.

O CVV oferece apoio emocional gratuito a quem está sofrendo com pensamentos suicidas. É possível conversar de forma sigilosa pelo telefone 141, pelo Skype, pelo chat do site www.cvv.org.br, por e-mail… a pessoa que estiver precisando escolhe o meio que achar mais conveniente. O CVV tem atendimento 24 horas por dia. Pensamentos suicidas e sentimentos de tristeza prolongada não são “fraqueza”, “covardia” ou “problema religioso”. São sintomas de doenças da mente e que podem ser tratados.

“Antes da pandemia, ainda era muito pouca a mobilização e a conscientização. Após a pandemia, a saúde mental ganhou proporção maior em função dos grandes transtornos de ansiedade, depressão, pânico, toque e outros. Houve, sim, uma redução do preconceito e desinformação, porque o tempo todo se está falando em saúde mental, mas ainda estamos muito longe do que é ideal para que se trate com naturalidade, assim como se trata um problema cardíaco, um problema ortopédico ou qualquer outra doença física”, diz a psiquiatra.

O que a medicina diz sobre o suicídio e o que leva uma pessoa a uma crise

Alexandrina explica que, do ponto de vista clínico, suicídio é a morte intencional provocada pelo próprio indivíduo que, muitas vezes está com alguma doença mental. A mais frequente é depressão, mas podendo também ter outras doenças mentais como o transtorno de abuso de álcool e outras substâncias, esquizofrenia, transtorno de personalidade, além de também ser muito frequente em doenças físicas que trazem um choque maior como câncer, doenças cardíacas, doenças neurológicas e quadros de dores crônicas.

A psiquiatra cita alguns comportamentos de risco e que são sinais de alerta:

  • automutilação
  • transtorno psiquiátrico sem acompanhamento
  • tentativa prévia de suicídio
  • casos de suicídio na família
  • predisposição genética
  • traumas por abuso sexual ou moral
  • negligência ou violência na infância e adolescência
  • impulsividade e agressividade
  • isolamento social (principalmente nos jovens e idosos)
  • doenças incapacitantes incuráveis e sem acompanhamento psicológico
  • dependência química de álcool e outras drogas
  • acesso a meios de letalidade
  • ausência de uma rede de apoio: médicos, familiares, amigos, colegas de atividades diversas e membros de ambientes de trabalho
  • falta de tratamento
  • pessoas que cuidam de pessoas com doenças mentais e não fazem acompanhamento

“Se não for feita nenhuma intervenção imediata, a pessoa pode continuar com risco elevado. Além disso, temos os gatilhos, que são o que chamamos de fatores precipitantes do risco de suicídio, como uma desilusão amorosa, conflitos de relacionamento, desonra ou vergonha, separação conjugal, perdas financeiras, perda de emprego, principalmente no primeiro e segundo mês”, acrescenta Alexandrina.

A psiquiatra faz ainda um alerta para a imprensa e para usuários de redes sociais: a exposição de uma pessoa com doença mental e em risco de suicídio a um conteúdo falando sobre suicídio de forma irresponsável e sensacionalista pode piorar as coisas. “É preciso esclarecimentos. Qualquer sensacionalismo favorece o efeito de imitação, o efeito Werther, no qual as pessoas acabam se identificando e acabam procedendo erroneamente para o fim da própria vida. Prevenção é uma tarefa de muitas mãos”, orienta.

As redes de apoio também precisam se cuidar e estarem atentas, mas não devem se culpar caso uma perda ocorra (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil / Imagem Ilustrativa)

 

Redes de Apoio são fundamentais para prevenção do suicídio e devem estar atentas sempre

As redes de apoio, ressalta a psiquiatra membro da Abrata, podem colaborar na prevenção do suicídio estando alertas a mudanças de comportamento, a pedidos de ajuda e a sinais de alerta como doenças da mente, dependência química e expressões que uma pessoa está deixando de querer viver e está pensando na morte como solução. A falta de atenção e apoio lentamente quebra a confiança e a pessoa pode deixar de se abrir. Essa responsabilidade, por outro lado, precisa ser cautelosa.

“Infelizmente, após o ocorrido, é que olhamos para trás e vemos. É importante que a gente não culpe e não ponha peso maior do que é para familiares e amigos diante de uma perda por suicídio. É uma morte que pode ser evitada sim, mas nem sempre conseguimos entender o sofrimento, a dor, a desesperança, o sentimento de que é interminável, insuportável e inevitável ao sofrimento que a pessoa tem”, pontua Alexandrina.

Para a psiquiatra membro da Abrata, uma parte das redes de apoio, que é nos cuidados médicos e assistenciais, ainda não evoluiu o bastante. Na rede pública de saúde e de assistência psicossocial, o acesso é limitado. Na rede privada, os custos podem ser altos.

“Ainda estamos longe do ideal. Como a gente já enfatizou, não é só em setembro, é o ano inteiro que precisamos fazer o alerta da importância de uma vida. Estamos em tempos onde tudo é descartável, todas as ligações, todas as relações são muito supérfluas, muita velocidade e com isso há uma banalização inclusive da própria vida, o que não é proveitoso tanto para a pessoa que está com doença mental”, reforça Alexandrina.

(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional)


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