sexta-feira, 22 de novembro de 2024

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Mudanças climáticas podem aumentar a incidência de raios no Brasil, prejudicando população e indústria

Fenômeno que causa prejuízos da ordem de R$1 bilhão por ano deve ficar mais frequente devido às mudanças climáticas. Estudos do Instituto Tecnológico Vale (ITV) demostram como se proteger em caso de tempestades atmosféricas
Tempestades com raios são os momentos mais delicados e que exigem muito mais cautela por parte da população (Foto: Freepik / Via Equatorial Pará)

Entre 2018 e 2022, o Brasil registrou cerca 590 milhões de descargas atmosféricas, popularmente conhecidos como raios ou relâmpagos. Anualmente, esses fenômenos provocam 110 mortes e deixam mais de 200 pessoas feridas no país. Os prejuízos econômicos chegam a R$ 1 bilhão, como apontam estatísticas do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe).

Diante destes números, cientistas do Instituto Tecnológico Vale (ITV) desenvolveram um documento que aponta como os setores da indústria e as comunidades podem evitar os riscos e adotar medidas de proteção em casos de tempestades elétricas. Tempestades são fenômenos atmosféricos caracterizados por grandes volumes de chuva, normalmente acompanhados de ventos fortes e, quando a nuvem é do tipo cumulonimbus (aquelas de grande desenvolvimento vertical), há a presença de relâmpagos e trovões.

Num cenário de mudanças climáticas que provoca catástrofes como no Rio Grande do Sul, as projeções indicam que tempestades elétricas devem ficar cada vez mais intensas e frequentes. Na Amazônia, que já dispõe de bastante umidade, a combinação de calor e umidade favorece ainda mais a instabilidade atmosférica. Para mitigar tais impactos, são imprescindíveis a redução da emissão de combustíveis fósseis e o combate ao desmatamento.

Entre os estados com maior ocorrência de descargas elétricas, em números absolutos, lideram o ranking o Amazonas e o Pará, respectivamente. Ambos trazem um ponto em comum: integram o bioma amazônico. A alta incidência é explicada pela presença do clima quente e úmido na região, típico de áreas de floresta tropical, e que favorece a formação de tempestades e raios.

“A alta quantidade de descargas atmosféricas na região amazônica, associada ao desconhecimento das medidas protetivas de pessoas e os cuidados para evitar a exposição ao risco, pode ocasionar o aumento de acidentes”, destaca o cientista Douglas Ferreira, do Instituto Tecnológico Vale.

Quais são as opções mais seguras para se proteger de descargas elétricas durante uma tempestade?

  • Fique em um veículo não conversível, feche as portas e vidros e evite tocar em superfícies metálicas
  • Permaneça em moradias ou prédios, não fique próximo e nem toque nas redes elétrica, telefônica e hidráulica, e mantenha a distância de portas e janelas metálicas
  • Caso as ações acima não sejam opções viáveis, procure abrigos subterrâneos, como metrôs ou túneis
  • Se você estiver em um local aberto e distante de um abrigo seguro durante uma tempestade, afaste-se de pontos mais altos e de objetos metálicos, mantenha os pés juntos e agache-se até a tempestade passar
  • Não se deite

Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo lideram o ranking de estados com alta frequência de raios por unidade de área. Como são estados com grandes centros urbanos e alta concentração populacional, há maior chance de fatalidades devido à incidência de descargas atmosféricas. Esses fenômenos têm características muito específicas. Em alguns casos, pessoas relatam que, antes de receberem descargas elétricas, tiveram sinais estranhos no corpo, como cabelos arrepiados.

Osmar Pinto Júnior, especialista em eletricidade atmosférica do Inpe, explica que pouco antes de um raio é criado um campo elétrico. Esse campo elétrico faz a pele formigar e os cabelos ficarem arrepiados. Quando acontece isso, a pessoa está na iminência de ser atingida por um raio e é preciso se abrigar em um local seguro. “Compreender quais as circunstâncias mais comuns das fatalidades podem contribuir para reduzir o risco e aumentar a segurança”, diz.

Atenção às atividades perigosas em dias de chuva

Algumas atividades podem representar um risco aumentado de ocorrência de raios, principalmente devido às condições específicas do ambiente, exposição ao ar livre e presença de equipamentos ou estruturas que podem atrair descargas atmosféricas. Para minimizar os riscos associados, é fundamental que todas as atividades implementem procedimentos de segurança rigorosos, forneçam treinamento adequado aos trabalhadores e monitorem as condições meteorológicas para tomar decisões informadas sobre a segurança durante tempestades elétricas.

Entre as atividades mais perigosas listadas no estudo estão: operações em áreas abertas, manutenção de linhas de transmissão e distribuição, trabalho em torres de transmissão e distribuição, trabalhos em telhados, operação de equipamentos condutivos como guindastes, escavadeiras, andaimes, pastoreio de animais em campos abertos, operação de equipamentos agrícolas, entre outros.

O estudo do ITV-DS aponta que praticar esportes outdoor e atividades recreativas em áreas abertas é perigoso durante tempestades (ou em ameaças de tempestades, quando é possível ver nuvens de tempestades) e podem trazer riscos em relação à incidência de descargas elétricas.

Áreas costeiras são consideradas muito perigosas durante temporais, já que os raios podem se propagar através da água. Igarapés e rios também representam riscos. Empinar pipas durante uma tempestade pode ser também uma atividade extremamente perigosa. A altura da pipa pode aumentar a probabilidade de um impacto direto. Os raios também podem atingir áreas distantes de onde a tempestade está ocorrendo.

Portanto, especialistas recomendam que a prudência é fundamental para garantir a segurança pessoal durante condições meteorológicas adversas. “A adoção de medidas preventivas, como a interrupção temporária das atividades ao ar livre durante condições meteorológicas adversas e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) são necessários para garantir a segurança dos trabalhadores”, destaca a especialista em eletricidade atmosférica, que recentemente foi pesquisadora de pós-doutorado do Instituto Tecnológico Vale (ITV), Ana Paula Paes dos Santos.

(Victor Furtado, da Redação do Fato Regional, com informações do ITV)


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